O câmbio teve uma manhã muito nervosa para os negócios neta terça-feira, 8, com o dólar para junho chegando a bater nos R$ 3,60, mas no meio da tarde os ânimos se acalmaram. A moeda à vista acabou encerrando a sessão em alta de 0,46%, a R$ 3,5685, a maior cotação neste ano. Durante o pregão, oscilou entre R$ 3,5563 (+0,12%) e a máxima de R$ 3,5942 (+ 1,24%). O que muito chamou a atenção hoje foi o volume à vista, fraco em relação à média dos últimos pregões, próxima a US$ 1 bilhão. Nesta terça-feira, até as 15h30, o pregão movimentava apenas US$ 180 milhões e, no fim do dia, alcançou US$ 400 milhões. O dólar para junho, às 17h18, subia 0,46% e estava em R$ 3,5760. Os negócios no futuro somavam US$ 10 bilhões, mais próximos ao ritmo de outros pregões. A avaliação do mercado é que o real continuará sob pressão, por conta do cenário geopolítico, que traz tantas incertezas quanto o quadro eleitoral doméstico. Num cenário de tantas dúvidas, as cotações devem continuar apresentando alta volatilidade.
Hoje a sessão começou com muita expectativa em relação à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de abandonar o acordo nuclear com o Irã _depois de muita especulação nos mercados, o anúncio oficial saiu por volta das 15h15 – e não mais afetou os ativos por aqui. O dólar já havia abandonado a tendência forte de alta praticamente duas horas antes, pouco depois das 13h, quando foi divulgado que a Argentina negocia uma linha de apoio financeiro com FMI. A Argentina vive uma crise de confiança, por conta da alta inflação e dos problemas fiscais, que levou o país a elevar os juros de 27% para 40% nos últimos dias, numa tentativa de conter a desvalorização de sua moeda. Ontem, a S&P chegou a mostrar preocupação com um aumento dos prêmios de risco na América latina, por conta dos problemas argentinos e das incertezas de anos eleitorais no Brasil e no México. Operadores, no entanto, fizeram questão de ressaltar as diferenças entre Brasil e Argentina – para começar no tamanho das reservas cambiais.
Bruno Foresti, gerente de câmbio do Ourinvest, lembra que a tendência para o dólar é de valorização em relação ao real, e as incertezas do cenário alimentam a alta volatilidade dos negócios. “O cenário geopolítico é muito nebuloso, com a guerra comercial, hoje a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã, a expectativa de mais elevações dos juros americanos. Isso leva ao fortalecimento do dólar em relação a outras moedas”, afirmou. Internamente ainda há indefinição sobre os candidatos na eleição deste ano e, depois, com relação ao grande problema fiscal que o novo presidente deverá enfrentar – e se o eleito for de um partido nanico, será que terá condições de enfrentar os problemas? A desistência de Joaquim Barbosa do concorrer ao pleito foi recebida como uma dúvida a menos, já que seu perfil era um grande ponto de interrogação na cabeça dos investidores.
Foresti observa que nos leilões de swap cambial do BC os contratos para agosto têm saído a taxas ao redor do 2,8%; já para novembro e janeiro de 2019, elas sobem para perto de 3,2% e 3,3%, respectivamente. “Isso mostra que o mercado está enxergando mais risco para o período pós-eleição”, afirma o gerente da Ourinvest. Ele acredita que o Banco Central age corretamente ao não fazer uma intervenção no mercado spot. “Não há problema de liquidez, prova disso é o fluxo francamente positivo em abril. Se nem com esse fluxo nem com o aumento de oferta de swaps o dólar se acomodou, está claro que a moeda americana está se apreciando por questões estruturais”, avalia.
Também já é visível na curva dos juros futuros que o mercado está revendo suas expectativas em relação à queda da Selic na próxima reunião do Copom – antes 70% das apostas eram que ela cairia, agora esse porcentual já estaria mais para 50%. “O cenário mudou muito nos últimos dias, principalmente em relação ao câmbio. Se o corte não vier, não pegará o mercado mais de surpresa”, afirmou.