A contínua valorização do dólar e o temor de desaceleração na China provocaram turbulência em mercados emergentes na última terça-feira, 15, que se manifestou em quedas nas Bolsas de Valores e desvalorização do câmbio. A cotação da moeda americana foi impulsionada pela alta dos rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA, que alcançaram o maior patamar desde 2011.
O dólar registrou nesta terça uma alta de 1,96% em relação ao rand sul-africano. Em relação à lira turca, o aumento foi de 1,81%. O dólar também avançou 1,29% no Chile e 0,99% no Brasil, onde fechou em R$ 3,66. A Argentina foi o único emergente a registrar ganho no câmbio.
Depois de se desvalorizar ao longo de 2017 e início de 2018, o dólar ganhou força a partir de março, o que aumentou o valor, em moeda local, das dívidas contraídas pelos setores público e privado dos mercados emergentes. A rápida valorização pode ter um efeito desestabilizador, dada a relevância do câmbio para grande parte desses países.
Retornos mais elevados dos títulos do Tesouro dos EUA também aumentam o estresse sobre os emergentes, já que funcionam como um fator de atração de capital, ao elevar o retorno sobre o que é considerado o investimento mais seguro do planeta. Na terça-feira, o rendimento desses papéis chegou a 3,09%, superando a barreira psicológica de 3% que dispara alarmes nos mercados.
David Beckworth, especialista em política monetária do Centro Mercatus da George Mason University, ressaltou que estrangeiros detêm US$ 10 trilhões em dívidas denominadas em dólar, que ficam mais caras em moeda local cada vez que o câmbio se deprecia. “A Argentina, por exemplo, precisa de mais pesos para pagar sua dívida em dólar. Esses países não podem imprimir dólares. Eles precisarão ganhar dólares por meio do comércio.”
Em sua avaliação, a tendência de apreciação da moeda americana continuará no curto prazo. “Os dados sobre atividade econômica nos EUA estão relativamente mais fortes do que o de outras regiões. Além disso, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) continuará a subir os juros. Os dois fatores contribuem para um dólar mais forte”, observou Beckworth, que espera mais três altas dos juros nos EUA até o fim do ano.
Desequilíbrio
Mohamed El-Erian, conselheiro econômico chefe da Allianz, também acredita que a valorização se manterá, alimentada pela política monetária mais apertada e o crescimento mais forte dos Estados Unidos em relação a outro países. “Alguns veem a valorização do dólar como consistente com um rebalanceamento de longo prazo da economia global. Mas, como a situação da Argentina demonstra, a acentuada e súbita valorização de uma moeda sistemicamente tão importante pode desequilibrar as coisas em outros lugares”, escreveu, em artigo publicado pelo Project Syndicate.
Dados da economia chinesa também ajudaram a azedar o humor dos mercados. Os investimentos registraram o menor ritmo de expansão desde 1999, enquanto vendas no varejo ficaram no menor patamar em quatro meses. Patrick Chovanec, diretor-gerente doSilvercrest Asset Management Group, disse que a desaceleração chinesa é inevitável, depois da expansão do crédito no ano passado. A injeção de recursos manteve a atividade em alta durante a realização do Congresso do Partido Comunista que renovou o mandato do presidente Xi Jinping.
“O maior problema na China é que eles parecem ter abandonado a ideia de mudar de maneira fundamental o modelo econômico e torná-lo menos dependente de investimento excessivo. Parece que eles vão continuar a dirigir até cair no abismo”, afirmou Chovanec, que não se arriscou a prever por quanto tempo o atual modelo poderá se sustentar.
O temor de uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo é outro fator que continua a assombrar os mercados, já afetados por incertezas geopolíticas, como a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã. Resultados econômicos na Europa também decepcionaram investidores. Alemanha, Holanda e Portugal cresceram menos que o previsto, o que levantou dúvidas sobre a expansão da região.
Ainda assim, Chovanec acredita que o nervosismo é provocado mais por expectativas do que por dados econômicos concretos. Entre os sinais positivos, ele mencionou: “A mudança no sentimento (dos investidores) foi maior que a mudança real dos números.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.