Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) consideraram reduzir o juro básico da economia, a taxa Selic, em 0,25 ponto porcentual, para 6,25% ao ano, na semana passada. A ata da reunião cita que essa hipótese, que não foi executada, foi considerada “com o objetivo de mitigar o risco de postergação da convergência da inflação rumo às metas”.
No parágrafo 20 do documento divulgado nesta manhã, os membros do Comitê citam que, entre os argumentos para novo corte do juro, estavam “os níveis baixos de inflação e de inflação subjacente e o ritmo gradual de recuperação da economia e seu arrefecimento recente”.
Após terem colocado sobre a mesa a hipótese de redução do juro, os diretores também avaliaram a opção de manter a taxa Selic em 6,50% – opção que acabou sendo vencedora.
“A favor dessa opção, pesava a mudança no balanço de riscos para a inflação em função do choque externo, que reduziu as chances de a inflação permanecer abaixo da meta no horizonte relevante por meio de possíveis impactos secundários na inflação”, cita o documento.
Diante desse balanço de riscos relacionado ao cenário externo, os diretores do BC avaliaram como “desnecessária a mitigação de risco de convergência demasiadamente lenta da inflação às metas”. “Pesando o cenário básico e o balanço de riscos, o Comitê concluiu que a decisão de manter a taxa de juros no atual patamar era a mais apropriada”, cita o documento.
Comunicação
A ata do encontro do Copom publicada na manhã desta terça-feira, 22, informou que os membros do colegiado debateram a comunicação adotada antes da decisão de manter a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano. A maioria do mercado financeiro esperava por corte de 0,25 ponto porcentual na semana passada.
Conforme o documento, avaliou-se o fato de que a comunicação recente “parecia ter sido interpretada por parte do público como indicativa de decisão na direção de uma redução adicional da taxa de juros”.
De acordo com o BC, acabou prevalecendo “o entendimento de que focar na melhor decisão possível dado o conjunto de informações disponíveis no momento resulta, ao longo do tempo, em maior credibilidade para a política monetária”.
A ata informa ainda que os membros do colegiado debateram a possível interpretação, por parte dos agentes econômicos, de que a política monetária estaria reagindo mecanicamente à alta do dólar ante o real.
Segundo o documento, podem haver impactos do choque externo na economia brasileira, “mas é essencial entender que a política monetária não reagirá a esses impactos de forma automática, uma vez que suas implicações para a política monetária dependem da forma como o choque poderá se transmitir às expectativas, às projeções de inflação e ao balanço de riscos”.
Deste modo, a ata trouxe a reafirmação de que o BC vai focar sua atuação nos “impactos secundários” sobre a inflação, “ou seja, na propagação a preços da economia não diretamente afetados pelo choque”. De acordo com o BC, “em um contexto de expectativas de inflação ancoradas, esses efeitos tendem a ser mitigados pelo elevado grau de ociosidade na economia”.
Ainda ao tratar de sua comunicação, os membros do Copom enfatizaram que ela deveria reafirmar a atuação da política monetária exclusivamente com foco na evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica.
“Choques externos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva”, disseram os membros do Copom. “Dessa maneira, concluíram que a ausência de relação mecânica entre o cenário externo e a política monetária e sua forma de atuação serão evidentes ao longo do tempo, mas que já deveriam ser explicitadas pelo Copom nas suas comunicações oficiais.”
Efeito estimulativo
Os diretores do Banco Central avaliam que o conjunto de indicadores relacionados à economia brasileira ainda prescreve uma política monetária estimulativa. Apesar desse diagnóstico, os membros do Copom mantiveram o juro básico da economia estável na semana passada. Um dos argumentos é que a atual taxa (6,5% ao ano) têm esse efeito desejado sobre a atividade e que devem “contribuir para que a inflação retorne para as metas”.
No parágrafo 17 da ata da reunião do Copom, a diretoria do BC reafirmou o entendimento de que a conjuntura econômica, que atualmente conta com expectativas de inflação ancoradas, medidas de inflação em níveis baixos, expectativa de inflação abaixo da meta em 2018 e “um pouco abaixo da meta para 2019” e elevado grau de ociosidade na economia, “prescreve política monetária estimulativa”. “Ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”.
Nesse trecho do documento, os diretores citam que, “embora estimativas dessa taxa envolvam elevado grau de incerteza”, há entendimento de que as atuais taxas ex-ante – que consideram a expectativa de inflação à frente – “têm efeito estimulativo sobre a economia”. “Ao longo do tempo, esse estímulo deve contribuir para que a inflação retorne para as metas”, cita o documento.
Ainda sobre o patamar do juro, o documento repete no parágrafo seguinte, o de número 18, a avaliação de que “o processo de reformas e de ajustes necessários na economia brasileira contribui para a queda da sua taxa de juros estrutural”. E essas estimativas, cita o texto, “serão continuamente reavaliadas pelo Comitê”.
Diante desse cenário, o documento conclui e cita que os diretores do BC entenderam a decisão de política monetária de manter o juro como “adequada tendo em vista essa evolução”.