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Dunga admite erros na base brasileira e vê falta de referências na Europa

O resultado da última Copa do Mundo deflagrou a inferioridade do Brasil diante das principais forças da Europa. A quarta colocação, após a vexatória goleada para a Alemanha por 7 a 1, na semifinal, e a derrota por 3 a 0 para a Holanda, na disputa do terceiro lugar, não seria motivo de total reforma no futebol nacional na opinião de Dunga, mas o próprio treinador da seleção admite a necessidade de algumas mudanças.

“Não podemos usar a Copa passada para achar que está tudo errado. Não podemos jogar tudo fora. O que acontece é que antes tínhamos jogadores que eram referências na Europa, marcavam gols e jogavam bem, como Ronaldo, Careca, Romário, Rivaldo. Isso não acontece mais, mas temos bons valores, que só não se sobressaem tanto. A não ser o Neymar”, disse em entrevista ao SporTV.

Para Dunga, os principais causadores desta ausência de craques são os próprios clubes brasileiros, que necessitariam de uma grande alteração em suas categorias de base. De acordo com o treinador, é preciso que os times levem em consideração as evoluções táticas imprimidas na Europa, mas sem limitar a liberdade e a criatividade naturais dos jogadores do País.

“Nós deixamos de incentivar a individualidade, o drible, que é o que o jogador brasileiro tem de melhor. O que sempre falamos do jogador brasileiro? Da criatividade. Então, ela precisa ser incentivada. É diferente de improvisação. Os dribles eram treinados, e por isso aconteciam nos jogos. Então, temos que buscar mais esse tipo de coisa”, comentou.

Dunga fez questão de salientar o estilo próprio do futebol brasileiro e a necessidade de se espelhar menos na Europa, mesmo que seja em estilos vitoriosos, como os dos técnicos Pep Guardiola e José Mourinho. “Nossa forma de se expressar está complicando um pouco. Estamos elogiando muito a Europa. Não podemos fugir muito da nossa escola. Hoje todo treinador tem o livro do Mourinho e do Guardiola… Temos que respeitar nossa escola, nossa tradição. Há muita preocupação com sistema, mas o jogador que sabe cabecear, chutar, joga em qualquer sistema.”

O próprio treinador, no entanto, reconheceu que há pontos a serem “copiados” no futebol do Velho Continente. “Precisamos aprender com a Europa a leitura tática. Aqui o jogador não é cobrado tanto quanto na Europa, onde ele responde muito bem a essa postura. Então, precisamos trazer isso para o Brasil também. Você precisa dar a leitura de posicionamento para não atrapalhar o menino. Mas precisa deixar jogar e, principalmente, errar, para ele aprender com os próprios erros. E aí, ter paciência para corrigir.”

A falta de obediência dos jovens jogadores, salientada por Dunga, também se reflete no comportamento extracampo, de acordo com o técnico. Ele criticou as privilégios dados a alguns nomes, que se profissionalizam muito cedo já com um alto salário e se portam como grandes astros, mesmo ainda nos primeiros anos de carreira.

“Estamos querendo trabalhar jogador do sub-15, sub-17, como profissional. Damos regalias a eles como se estivessem no profissional, mas precisam ser colocados em seu devido lugar. É culpa de todo um processo. Precisamos colocar na cabeça deles que são uma equipe, que se querem chegar à Europa, jogar em grandes clubes, precisam vencer juntos”, apontou.

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