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Marco Polo Del Nero articula manobra na CBF para manter seus aliados no poder

Marco Polo Del Nero licenciou-se da presidência da CBF, mas mantém o poder de articulação na entidade. Nesta sexta-feira, ele foi o mentor da escolha do presidente da Federação Paraense, Antônio Carlos Nunes de Lima, para substituir José Maria Marin em uma das vice-presidências da CBF. A eleição será no próximo dia 16 e a opção por Nunes tem o objetivo de barrar a possibilidade de Delfim Peixoto, vice-presidente mais velho da confederação, chegar ao poder.

A manobra é simples: Nunes tem 77 anos e se tornará o vice mais velho, pois Delfim, presidente da Federação Catarinense e vice pela Região Sul, tem 74. Assim, o raciocínio foi de que, caso Del Nero sofra forte punição do Comitê de Ética da Fifa e tenha de deixar a CBF, o que automaticamente anularia a sua decisão de nomear Marcus Vicente o presidente interino durante sua licença, o aliado Nunes assumiria o comando.

A convocação para a eleição do substituto de Marin – em prisão domiciliar em Nova York, ele deixou o cargo vago por mais de 180 dias – foi o primeiro ato efetivo do presidente interino, Marcus Antônio Vicente (Del Nero licenciou-se por 150 dias, para cuidar de sua defesa perante o Comitê de Ética da Fifa e a Justiça norte-americana, que o acusa de vários crimes). Mas pode acabar em uma batalha judicial.

Del Nero, investigado na Fifa entre outros temas por suspeita de compra de votos, pode ser suspenso temporariamente. A expectativa é de que a Comissão de Ética, que nesta sexta-feira suspendeu por 90 dias o paraguaio Juan Angel Napout e o hondurenho Alfredo Hawit (foram presos na última quinta) se pronuncie sobre o brasileiro nesta segunda ou terça.

Se a suspensão temporária ocorrer, seu ato indicando Vicente permanecerá válido e, por consequência, a assembleia do próximo dia 16, com votos dos 27 presidentes de federações e dos 40 clubes da séries A e B do Campeonato Brasileiro, que elegerá Nunes – presidente da Federação Paraense desde 1998 e coronel da reserva da Polícia Militar. Aí, pelo raciocínio de Del Nero e de seus pares, Delfim estaria neutralizado.

Caso Del Nero seja banido pela Fifa, perderá automaticamente o cargo na CBF e todos os atos são invalidados. “Se ele (Del Nero) for punido pelo comitê da Fifa, cessam todos os seus direitos, inclusive o de indicar alguém”, considerou Pedro Trengrouse, coordenador acadêmico do curso Fifa/FGV em Gestão, Marketing e Direito no Esporte. “Se não tem poder de presidente, não tem poder de indicar”.

Delfim prefere não se pronunciar. Mas pessoas próximas a ele dizem que recorrerá à Justiça tão logo o Comitê de Ética se pronuncie, seja pela suspensão temporária ou pela definitiva de Del Nero. “Todo mundo está vendo a jogada por trás disso e a Justiça também vai perceber”, disse um dirigente alinhado com o catarinense.

Entre os aliados de Del Nero, que nesta sexta-feira estiveram na sede da CBF para reuniões e almoço de fim de ano, previsivelmente ninguém admitiu a manobra. “Não somos eleitores de cabresto”, disse Francisco Cezário de Oliveira, presidente da federação do Mato Grosso do Sul.

Mas, depois, Cezário deixou escapar que a ideia é que o poder do futebol brasileiro siga nas mesmas mãos. “Eu entendo que a candidatura do Coronel Nunes representa todo o seguimento de um processo nascido numa família que perdura até hoje. A maioria dos presidentes de federação hoje fazem parte de um colégio em que somos a mesma família”.

Questionado sobre se a idade de Nunes tinha sido levada em conta quando sugeriram o nome, Cezário respondeu: “Pode ser um fator que venha a pesar”, disse.

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