As acusações do ex-jogador e atual senador Romário de que as convocações da seleção brasileira tinham “interesses por trás” revoltaram Dunga. O treinador negou qualquer tipo de influência externa em suas listas, garantiu que sempre chamou os jogadores pelo nível técnico deles, mas revelou que chegou a receber ameaças de empresários que não tiveram seus representados convocados.
“Não, nunca tive de jeito nenhum (pressão para fazer as convocações). Mas já tivemos alguns problemas por não convocar jogadores e, de certa forma, entre aspas, sermos ameaçados por mensagem”, declarou o técnico da seleção em entrevista exibida neste domingo pela TV Globo.
A afirmação do treinador é mais um episódio em um ano bastante conturbado para o futebol brasileiro. Em meio aos escândalos de corrupção envolvendo nomes como José Maria Marin, Marco Polo Del Nero, entre outros, uma denúncia do jornal O Estado de S. Paulo em maio mostrou documentos que comprovavam que a lista de convocados da seleção precisava atender a critérios estabelecidos por parceiros comerciais da CBF.
Apesar disso, Dunga garantiu que nunca deixou qualquer influência externa, mesmo que de empresários, definir suas convocações. O treinador, aliás, parece resignado em relação às ameaças e à grande interferência dos agentes de atletas no cenário atual do futebol.
“Eles (empresários) comandam o futebol, não adianta fazer coisa certa que eles vão se reunir e se voltar contra nós. São coisas que acontecem no futebol. Mas foi só um episódio, os outros empresários entenderam que não adianta assessor e empresário falar, tem de jogar para ser chamado”, afirmou.
O treinador ainda comentou as críticas de Romário e admitiu certo incômodo pelas acusações terem partido justamente do ex-jogador, com quem atuou na seleção brasileira por anos, inclusive no título da Copa do Mundo de 1994.
“Decepção é uma palavra muito forte, mas não esperava. Ele me conhece, sabe da minha conduta. Foi isso que me causou estranheza. Talvez venha do que eu falei, colocam todo mundo junto. O Brasil tem liberdade, democracia, também acho que deva ter, mas é preciso ter responsabilidade no que se fala”, apontou.