O Comitê Olímpico Internacional (COI) anuncia que vai auditar as contas do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Mas não pedirá nem mesmo para ver os contratos entre a cidade do Rio e empresas envolvidas na Operação Lava Jato, como a Odebrecht, responsável por erguer o Centro Internacional de Transmissão e o Parque Olímpico.
Thomas Bach, presidente do COI, anunciou que, para reforçar o combate contra a corrupção, a entidade vai ampliar as auditorias com todas as entidades nacionais e fiscalizará de forma independente o que será feito com cerca de US$ 1,2 bilhão que irá para o Rio de Janeiro. Nesta semana, ele já alertara que a corrupção está ameaçando a credibilidade do esporte. “Queremos que o dinheiro que vem do esporte vá para o esporte”, disse, defendendo uma “boa gestão”.
A reportagem do Estado de S. Paulo questionou se o COI também pediria uma auditoria independente das obras para as instalações olímpicas do Rio. Mas Bach deixou claro que esse não é sua responsabilidade. “A auditoria se refere apenas ao Comitê Organizador. O restante são contratos entre a cidade e as construtoras”, afirmou. “Temos total confiança no prefeito (Eduardo Paes) e na cidade, além de defender a presunção de inocência.”
Questionado por uma agência internacional se não temia que os escândalos na CBF também surgissem no Comitê Olímpico do Brasil (COB) ou no Rio-2016, Bach se recusou a falar do assunto. “Não vou jogar suspeitas sem ter informação concreta”.
Em entrevista à AP, a procuradora-geral dos Estados Unidos, Loretta Lynch, não respondeu se está ou não investigando os contratos relacionados com os Jogos de 2016 no Rio.
IMPEACHMENT – Apesar de tentar se afastar das polêmicas de corrupção no Brasil, os altos dirigentes do COI admitem que estão “preocupados” com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, com a recessão e garantem que estão “dispostos” a adaptar os Jogos de 2016 para se adequar às “novas realidades” do Brasil.
A meta do COI é clara: blindar seu maior evento do caos político brasileiro. “O Rio será uma ilha”, garante Alex Gilady, membro do COI. Outros membros do COI, porém, são mais diretos. “A instabilidade política nos preocupa”, admitiu Wu Ching-kuo, membro do Comitê Executivo do COI. “Se não temos estabilidade, o impacto pode ocorrer nos Jogos”, disse. Para Gilady, porém, a realidade é que, seja o que ocorrer no Brasil, “não mais como voltar atrás”.
Parte da estratégia é a de não dar detalhes do impacto econômico da crise na preparação. Oficialmente, ninguém sabe dizer qual o tamanho do corte do orçamento. “Eu não tenho ideia do que precisamos cortar”, disse Thomas Bach. Mas, nos bastidores, os trabalhos apontam para uma revisão completa dos contratos para impedir uma contaminação.
Na quarta-feira, o COI anunciou a criação de um grupo de trabalho para estudar um corte nos gastos do evento. Nesta quinta, Bach confirmou que a entidade também vai contribuir na redução de exigências. “Sabemos dos desafios políticos e econômicos. A situação não é fácil”, declarou Bach. “Estamos prontos a nos adaptar e adaptar o orçamento do Comitê Organizador do Rio2016 para esses novos desafios”, disse o dirigente. “Vamos adaptar o orçamento para que atletas não sejam afetados”, afirmou.
Sobre o impeachment, Bach tentou minimizar um eventual impacto no evento. “Estamos acompanhando isso de perto. Na organização dos Jogos, estamos na fase operacional e, portanto, estas questões políticas têm influência menor do que em outros estágios. Apesar dos problemas políticos, temos confiança com os Jogos”, disse.