O Campeonato Brasileiro de 2015 foi a primeira competição nacional disputada desde o início com as novas arenas construídas para a Copa do Mundo. Os números comprovam que a modernidade dos novos estádios caíram no gosto dos torcedores, que aceitam até pagar mais para ter conforto enquanto assistem as partidas. Um estudo feito pela BDO e divulgado com exclusividade ao jornal O Estado de S. Paulo, mostra que nunca o torcedor foi tanto ao estádio e gastou para ver seu time de coração. Além disso, a tese de que estão elitizando o futebol nacional, pelo menos na frieza dos números, não se comprova.
Os ingressos para os jogos do Campeonato Brasileiro foram, de fato, os mais caros da história da competição. Houve um aumento de 7% em relação ao ano passado e a média foi de R$ 37,06 por bilhete. Essa elevação do valor se dá muito pela precificação dos bilhetes nas novas arenas.
Nos estádios construídos ou reformados recentemente, como o Allianz Parque e o Itaquerão, os ingressos são 67% mais caros dos que os de locais mais tradicionais, como o Morumbi. A média é de R$ 42,98, enquanto nos estádios mais antigos o valor é de R$ 25,71. A quantidade de torcedores presentes também mostra uma diferença abissal e explicável se levar em consideração o conforto e o fato de as novas arenas ainda ser consideradas algo novo e que desperta a curiosidade em conhecer.
As novas arenas tiveram a média de 24.505 torcedores contra 10.447 dos antigos. “As novas arenas tiveram 135% mais torcedores. Isso é prova de que o torcedor gosta de ser bem tratado, mesmo que isso signifique pagar um valor maior. O público aceita pagar mais para ter um tratamento melhor”, comentou Pedro Daniel, responsável pela área de esportes da BDO.
O estádio que teve melhor média foi o Itaquerão, do campeão brasileiro Corinthians, que recebeu 35.484 pessoas por jogo, seguido pelo Allianz Parque e Mineirão.
O estudo foi feito tendo como base os borderôs dos 380 jogos do Brasileiro. As estatísticas não levam em consideração possíveis promoções dos clubes ao longo da temporada.
O fato é que, apesar dos números elevados, as novas arenas ainda podem ser bastante exploradas pelos clubes, principalmente por aqueles que conseguem trabalhar melhor a relação dos programas de sócios-torcedores.
“Fica claro que temos um potencial imenso de exploração. A média de público é boa, mas é baixa se comparado até mesmo a campeonatos de médio porte da Europa. O torcedor não deixa de ir a um jogo por causa do preço e isso já foi provado pelos números. O diagnóstico que a gente trás é que as arenas são fontes de renda que ainda precisam ser mais bem exploradas”, explicou Daniel.
Dois clubes que aparecem como exemplos a serem seguidos em relação às arenas novas e aos programas de sócio-torcedor são Corinthians e Palmeiras. Uma das coisas que chamam a atenção do responsável pelo estudo é que esses clubes possuíram suas casas com bons públicos na maioria dos jogos porque muitos torcedores iam ao jogo só para manter a fidelização e terem vantagem na compra de ingressos nas partidas em que eles realmente gostariam de estar presentes.
O Palmeiras, inclusive, é o time que tem o ingresso mais caro do Brasil, com média de R$ 62,72 o bilhete, seguido pelo Corinthians (R$ 59,71) e Flamengo (R$ 44,21). Os três disputam também a liderança do público total, com o alvinegro paulista na frente (648.849 pessoas), os cariocas em segundo (588.292) e o time alviverde em terceiro (563.009).
SEM ELITIZAÇÃO – Uma das reclamações que mais tem se tornado corriqueira dos torcedores é o preço elevado dos bilhetes. Muitos dizem que os dirigentes estão tentando elitizar o futebol.
“Isso não é verdade. Tem lugar para todo mundo no estádio. Tem o camarote, o setor VIP e alguns lugares mais afastados, que custam menos. É como um avião. Você pode pagar menos e ter um pouco menos de conforto. O valor médio dos ingressos é de R$ 40. Não é um absurdo”, opina Pedro Daniel.
Apesar do valor médio não ser considerado tão abusivo, alguns jogos chamaram a atenção pelo alto preço para vê-lo ao vivo. O confronto entre Cruzeiro e Corinthians, no dia 10 de maio, disputado na Arena Pantanal, teve tíquete médio de R$ 128,57, o mais alto da competição.
Mais uma prova do quanto as novas arenas devem ser rentáveis para quem soubera administrá-la com capacidade é a de que nove dos dez jogos com maior público do Brasileiro foram realizados nesses estádios.
A exceção foi o jogo do São Paulo contra o Coritiba, no qual 59.482 torcedores estiveram presentes, no segundo maior público do torneio. O primeiro é Flamengo x Coritiba, com 67.011, no Mané Garrincha.
JOGOS ÀS 11H SÃO SUCESSO – O polêmico horário das 11h de domingo para algumas partidas do Campeonato Brasileiro criou muita discussão, mas parece ter caído no gosto dos torcedores, que lotaram os estádios na maioria das partidas a essa hora seja em estádios novos e modernos ou nos mais antigos e tradicionais.
Tanto que a maior média de público pertenceu aos jogos das manhãs de domingo. Foram 31 jogos com o público médio de 24.049 torcedores. “É um horário excelente para o torcedor poder ir com a família. Dá para chegar fácil e depois ainda aproveitar o domingo”, comentou Pedro Daniel, responsável pela área de esportes da BDO, responsável pelo estudo.
Se os torcedores festejaram os jogos matinais, o mesmo não se pode dizer dos jogadores. Principalmente em dias mais quentes, muitos atletas chegaram a passar mal em campo. No dia 16 de agosto, por exemplo, Palmeiras e Flamengo se enfrentaram no Allianz Parque, sob um calor de 30ºC. O lateral-direito Lucas precisou ser substituído, após sentir tonturas, e o atacante Dudu vomitou em campo. O flamenguista Everton também teve enjoos e precisou ser medicado.
Deixando de lado horários que tiveram poucas partidas, como quinta, às 16h (um jogo) e domingo às 15h (três confrontos), a hora que mais teve público foi quinta-feira, às 21h, seguida pelo sábado, às 19h30. Para 2016, os jogos às 11h devem continuar sendo realizados.
Por outro lado, a pesquisa mostra também os horários que não agradaram aos torcedores. Os piores de público foram quarta-feira, às 20h, sábado, às 20h, e quarta-feira, às 19h30.
Para Pedro Daniel, o baixo público nesses horários ocorre pela dificuldade que os torcedores têm em conseguir chegar ao estádio, principalmente nas grandes cidades. “Com exceção de sábado, são horários de pico e que muita gente ainda está saindo do serviço e têm muitas dificuldades em conseguir chegar ao estádio”, disse.