Os primeiros comentários públicos de autoridades japonesas sobre a fuga do ex-presidente da Renault-Nissan Carlos Ghosn indicam que ele teria recebido um julgamento justo e fugido do Japão porque não queria pagar o preço por seus delitos.
"O réu Ghosn quebrou sua própria promessa de que definitivamente compareceria perante o tribunal e fugiu do país. O que isso mostra é simples: ele não queria se submeter ao julgamento dos tribunais de nossa nação e procurou evitar a punição por seus próprios crimes ", disse o vice-procurador de Tóquio Takahiro Saito. "Não há espaço para justificar tal ação".
Até este domingo, 5, nenhum funcionário do governo japonês responsável pelo caso Ghosn, que fugiu da prisão em Tóquio na última segunda-feira, 30, havia comentado o assunto, deixando o campo aberto para o ex-presidente da Nissan Motor Co. e seus defensores atacarem o sistema judiciário.
Ghosn disse que em 31 de dezembro foi "mantido refém por um sistema judicial japonês fraudulento, onde se presume culpa, a discriminação é desenfreada e direitos humanos básicos são negados". Um de seus advogados de defesa, Takashi Takano, disse no sábado, 4, que os réus no Japão não recebem um julgamento justo, em parte, porque os suspeitos podem ser mantidos por semanas ou meses atrás das grades para interrogatórios sem a presença de um advogado.
Ghosn foi preso no Japão em novembro de 2018, acusado de ocultar parte de seu patrimônio. Ele ficou meses na prisão até conseguir, em um acordo de US$ 14 milhões (cerca de R$ 56 milhões), migrar para a prisão domiciliar. Apesar de as acusações da promotoria japonesa terem sido feitas 13 meses atrás, ainda não havia perspectiva de um julgamento em Tóquio.