Esportes

Fãs do Brasil, chineses aproveitam real desvalorizado para seduzir jogadores

Com os cofres cheios e incentivados pelo governo de um presidente apaixonado por futebol, os clubes chineses têm dinheiro para contratar os melhores e mais caros jogadores do mundo. Por que, então, resolveram concentrar grande parte dos seus investimentos no Brasil? Há duas razões básicas: a histórica paixão pelo futebol brasileiro e a desvalorização do real.

O Tianjin Quanjian, time que disputa a segunda divisão do Campeonato Chinês, por exemplo, traçou como meta subir para a elite e conquistar uma vaga na Copa da Ásia. Os dirigentes não pensaram duas vezes. Vieram ao Brasil e contrataram o técnico Vanderlei Luxemburgo, o meia Jadson e o atacante Luis Fabiano. Os chineses ainda ofereceram para Alexandre Pato salário de R$ 5 milhões, mas ouviram o atacante do Corinthians dizer não. Agora estão atrás de outro jogador brasileiro.

Segundo Sun Xian Lu, coordenador do Tianjin Quanjian, mesmo depois do vexame da última Copa do Mundo o Brasil continua sendo visto como o “país do futebol”, com jogadores e treinadores considerados capazes de ajudar no desenvolvimento do esporte na China.

“A derrota na Copa afetou um pouco a imagem do futebol brasileiro, mas o país continua tendo bons jogadores e o 7 a 1 foi um episódio isolado. O futebol é um jogo coletivo, mas também é importante contar com destaques individuais. É bom um time ter jogador que faça a diferença. Os chineses são muito duros e esse contato com os brasileiros é importante. O que falta para o futebol chinês é a qualidade técnica do brasileiro”, disse.

Assim como o Shandong Luneng no ano passado, o Tianjin Quanjian aproveitou para fazer a sua pré-temporada no Brasil e Luxemburgo levou o time para Atibaia (SP).

Tang Wei, diretor-geral da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico, destaca também a desvalorização do real no último ano. “O valor do jogador brasileiro ficou até 40% mais barato no mercado internacional. Isso foi fundamental para o Brasil ser escolhido como principal lugar de importação de mão de obra no futebol”, disse Wei, que nasceu em Pequim e desde 1988 vive no Brasil.

Não é de hoje que jogadores saem do Brasil para jogar na China. O sérvio Petkovic, por exemplo, que fez carreira no futebol brasileiro, deixou o Vasco em 2003 para jogar no Shanghai Greenland. O contrato foi costurado pelo advogado Marcos Motta, que nos últimos 10 anos participou da maioria das transferências de atletas do País para a China, quase todas intermediadas por Joseph Lee, empresário indonésio que desde 1993 negocia jogadores com o mercado asiático.

“Já é uma tradição ter jogador do Brasil na China. Há empresários com uma penetração muito grande na China. Isso criou uma tropicalização e fez um elo negocial. Jogador brasileiro na China tem dado certo. É uma experiência satisfatória tanto do ponto de vista técnico como do financeiro”, disse Motta.

INCENTIVO – O número de transferências se intensificou desde a chegada do presidente Xi Jinping ao poder, em 2013. Seu plano é não só ver a China em uma final de Copa do Mundo, como também fazer com que o país seja sede do Mundial a médio prazo. Assim, os clubes estatais passaram a receber mais investimentos e os de propriedade privada a contar com colaboração financeira do governo, sobretudo através da isenção de impostos. Além de gastar com atletas, o investimento em estrutura cresceu muito nos últimos anos.

“Desde quando eu era pequeno e morava na China, sempre admiramos o futebol brasileiro. Mas a China não está interessada em importar apenas jogadores. Ela quer conhecimento no futebol para avançar na área de medicina esportiva, por exemplo, já que o Brasil, pela sua tradição no futebol possui know-how no ramo”, disse Wei.

Luxemburgo levou 10 profissionais para montar a sua comissão técnica. Número semelhante às “trupes” de Mano Menezes no Shandong Luneng e de Luiz Felipe Scolari no Guangzhou Evergrande.

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