O físico mudou, os saltos já não o levam tão longe, mas a língua de Jadel Gregório continua afiada. No País para a disputa do Troféu Brasil, foi acompanhado com palmas pelo público presente à Arena Caixa na noite de sexta-feira, mas mal falou com os adversários. “Sou amigo do mundo, mas sou uma pessoa séria. De repente, uma conversa que não vai somar para mim, eu prefiro não me estender.”
Apenas quinto colocado no salto triplo, na sexta, Jadel Gregório mal passou dos 16 metros (fez 16,03), resultado que comemorou ponderando que volta de lesões. Uma grande diferença para aquele saltador que superou 17 metros por 10 temporadas seguidas, feito único no mundo. Na opinião do veterano, três vezes medalhista da prata em Mundiais, não há nenhum brasileiro para substituí-lo.
“De repente faz um resultado, se coloca em um pedestal muito alto e esquece que resultado é se manter. Estou vendo muito atleta com carro, mas resultado nenhum. Atleta que fez um resultado deste tamanho (pequeno) andando com óculos na cara, achando que de repente é o Bolt. Vejo vários incentivos e não vejo resultados. Quando eu entrar nesse programa, a coisa muda”, garantiu, fazendo referência ao Programa Nacional de Apoio a Atletas de Alto Nível, da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
No último dos seus 10 anos saltando acima de 17 metros, em 2009, Jadel alcançou 17,12m. Desde então, só Jonathan Henrique Silva superou essa marca, uma única vez, em 2012. O ouro do Troféu Brasil ficou com Jefferson Dias Sabino, com meros 16,36m. “Atletas de fora vinham aqui porque eu saltava bem, a competição era forte. A gente tinha contato com a galera, fazia festa, era bonito. Hoje não tem.”
Se no salto triplo os resultados brasileiros estão longe de valer uma final olímpica, no salto em distância o Brasil não vai mal. Mauro Vinícius da Silva, o Duda, é bicampeão mundial indoor, Higor Alves foi o melhor juvenil do mundo em 2013 e outros dois ou três atletas têm condições da fazer índice olímpico.
Jadel não pensa assim. “Quando a gente fala em bom resultado, é um bom resultado lá fora. Fazer um resultado dentro do País e depois não fazer nada, não considera. Eu considero um bom resultado levar a bandeira do Brasil durante 10 anos”, diz o veterano, advogando em causa própria.
Questionado sobre Duda, hoje maior nome dos saltos horizontais no Brasil, Jadel poupou o garoto, mas não sua equipe. “O Duda não é só um espelho de pessoa, é uma pessoa muito boa. Mas algumas pessoas apagam o brilho dele, porque ele não tem maldade nenhuma”, disse, antes de decidir colocar o pé no freio e evitar polêmicas.
Não sem antes lançar uma espécie de desafio: “É fácil treinar para uma competição só. Se eu tiver todo esse incentivo aí para treinar só para os Jogos Olímpicos, eu salto 18 metros”, garante o recordista brasileiro da prova, com 17,90m. Na história, só cinco atletas conseguiram tal feito. Dois deles, nesta sexta-feira, na etapa de Doha da Diamond League.
FUTURO – Para sonhar com medalha, porém, Jadel precisa primeiro se classificar para os Jogos Olímpicos, saltando 16,90m, marca que só alcançou uma vez nas últimas quatro temporadas. “Fiz cirurgia nos dois joelhos (em 2011), leva tempo para recuperar. Tive que voltar a andar, voltar a correr e voltar a saltar. Hoje estou mais forte, mas mais travado”, avalia.
Aos 34 anos, Jadel pretende levar jovens brasileiros para fazer parte da equipe dele, em San Diego (EUA), onde mora e treina, mas ainda vê muita coisa boa para sua carreira. “Não paro depois de 2016. Tenho 34 anos e me sinto com 18. Falo com tranquilidade que não estou preocupado com hoje, nem com a temporada desse ano. Eu sei o que posso fazer, sei o que já fiz. É questão de tempo. (Os Jogos de) 2016 é o lugar certo e a hora certa.”