A Fifa aprovou uma nova constituição, na esperança de convencer a Justiça que ela está mudando e, assim, evitar que seja declarada como uma organização criminosa. Nesta sexta-feira, um pacote de medidas foi adotado pela entidade, colocando fim aos reinados, como o de João Havelange ou Joseph Blatter, e estabelecendo maiores controles sobre as contas do futebol.
Abalada por prisões e fuga dos patrocinadores, a entidade registrou o primeiro déficit em 14 anos e com um buraco em 2015 de US$ 103 milhões. Mas, além do dinheiro, o que mais preocupa é a possibilidade de que a entidade ainda seja denunciada como parte do esquema corrupto. Se esse for o caso, uma condenação levaria ao confisco de suas reservas de mais de US$ 1,4 bilhão e, na prática, ao fim da entidade.
No total, 41 pessoas e entidades do mundo do futebol já foram indiciadas pela Justiça norte-americana. A próxima, porém, poderia ser a própria Fifa. Para advogados e dirigentes que assumiram a entidade depois do caos das prisões e da queda de seu presidente Joseph Blatter, a única saída seria tentar desmontar a estrutura de poder existente.
As medidas, que estão sendo chamadas de “Anti-Havelange”, estabelecem um limite de doze anos para presidentes e executivos. Na avaliação dos encarregados pelas reformas, ao limitar os mandatos, a Fifa estaria impedindo a formação de “clubes” dentro da entidade que controlariam decisões importantes. O Comitê Executivo ainda será transformado em Conselho da Fifa e decisões técnicas sobre contratos passarão a ser examinadas por um grupo de especialista, justamente para evitar que influências políticas determinem a escolha de parceiros comerciais.
Outra decisão será a de publicar o salário do presidente e um grupo independente ainda vai fazer um “exame de integridade” em cada um dos novos membros do Conselho da Fifa para garantir que nenhum membro esteja sob suspeita em seus respectivos países.
Para aprovar a reforma, a entidade precisava contar com 75% dos 207 votos. Conseguiu 89%, com apenas 22 federações votando contra. “Se não conseguíssemos isso, poderíamos ir para casa e fechar a Fifa”, alertou Moya Dodd, do Comitê Executivo da Fifa. Nem todos garantiam que a Fifa sobreviveria. Alaisdar Bell, da Uefa, foi enfático: “Sem as reformas, o futuro não está garantido”.
Nem todos concordaram com as mudanças. “Essa reforma ameaça o futuro da Fifa. Dá mais poderes à cúpula. Não é um bom caminho. Numa tempestade, não podemos fazer reformas. Precisamos esperar e estamos indo rápido demais”, disse a delegação da Palestina.
As medidas vão exigir que as federações nacionais também adotem limites de mandatos e que abram suas contas. Na Fifa, novas auditorias vão ocorrer.
Issa Hayatou, presidente interino da Fifa, também pediu a aprovação das reformas. Mas se recusa a generalizar os problemas e diz que a corrupção foi obra de uma “ínfima minoria”. “Haverá mais democracia”, garantiu François Carrard, o homem chamado para liderar as reformas. No seu discurso, porém, ele fez questão de agradecer Joseph Blatter.