O surto de zika no Brasil não deverá mesmo ter maiores impactos nos Jogos do Rio, como sustentam os organizadores. Alguns dos principais comitês olímpicos nacionais do mundo afirmaram à reportagem do jornal O Estado de S. Paulo que não pretendem deixar de vir à Olimpíada por causa da doença. Muitos, porém, vão adotar medidas extras de prevenção – o que inclui até o uso de mosquiteiros nos apartamentos da Vila Olímpica e roupas mais longas.
Desde o início do mês, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou os casos de microcefalia ligados à zika emergência mundial, o tema se tornou assunto recorrente. Isso levou até mesmo o Comitê Rio-2016 a reunir especialistas na área médica para tratar do assunto. No exterior, houve quem sugerisse o adiamento ou até o cancelamento dos Jogos.
Os Estados Unidos, principal potência olímpica, foi um dos primeiros a se manifestar sobre o fato. “A equipe americana já olha para os Jogos e não evitamos, nem vamos evitar, que nossos atletas compitam por seu país caso se classifiquem”, declarou Patrick Sandusky, porta-voz da entidade.
O clima de insegurança em função do zika parece não ter afetado os comitês olímpicos nacionais de outras potências. Com maior ou menor veemência, Alemanha, Espanha, Austrália, Japão, França e Bélgica, ouvidos pela reportagem, descartaram ficar de fora da Olimpíada.
Vencedor de 44 medalhas, sendo 11 de ouro, nos Jogos de Londres-2012, o comitê olímpico alemão firmou parceria com a maior fabricante de repelentes do seu país e fornecerá o produto para todos os integrantes da delegação durante a estada no Rio de Janeiro. A entidade também quer que os atletas utilizem mosquiteiros nos quartos da Vila Olímpica.
Em Paris, o Comitê Nacional Olímpico da França não decidiu se divulgará uma cartilha de recomendações aos atletas. A razão: a estação em que a competição será realizada no Rio é favorável à erradicação do vírus. O tema está em terceiro plano nos interesses do comitê, atrás do desempenho da equipe em 2016 e da candidatura de Paris aos Jogos de 2024.
Já o Comitê Olímpico Belga planeja uma série de medidas para garantir a segurança e a saúde dos atletas do país. Segundo o diretor médico da entidade, Johan Bellemans, o receio é pequeno, já que os Jogos ocorrerão com clima mais seco e temperaturas mais baixas, ambiente desfavorável à reprodução do mosquito. “Nesse período do ano há muito menos mosquitos, e logo muito menos risco de infecção”, diz o comunicado distribuído pelo comitê belga.
Feita a ponderação, a entidade aconselhou que os atletas usem repelente e vestes de mangas longas, além de calças, em lugar de bermudas, de forma a evitar a exposição da pele às picadas. “Nós estamos convencidos que o Comitê Organizador, o Comitê Olímpico Internacional e as autoridades brasileiras oferecerão um ambiente seguro para o sucesso dos Jogos Olímpicos”, afirmou o chefe do time belga, Eddy De Smedt. “Não há razão para pânico.”
SOLUÇÕES – Décima colocada no quadro de medalhas na última Olimpíada, a Austrália vai adotar procedimento semelhante ao da Alemanha. “Estamos orientando os integrantes da equipe sobre os riscos e maneiras de atenuá-los, como usar mangas compridas e repelentes, além de fechar as janelas e usar o ar-condicionado na Vila Olímpica”, declarou o comitê.
Nenhum atleta do país será obrigado a vir ao Rio, mas os australianos não creem em desistência. “Os atletas e funcionários do comitê têm autonomia para decidir se querem ou não participar dos Jogos. Nós não forçaremos nenhum atleta a participar, mas até o momento ninguém demonstrou interesse em deixar a Olimpíada.”
A Espanha também confirmou presença, mas adotou um tom um pouco mais cauteloso. “Até o momento, vamos participar. Para isso, vamos tomar as medidas sanitárias necessárias”, destacou o comitê nacional. “Não podemos obrigar ninguém a participar de uma competição caso ele sinta que sua saúde corra algum risco, mas nossa obrigação é oferecer todas as medidas possíveis para que os atletas não considerem essa possibilidade.”
O Japão, por sua vez, preferiu um tom protocolar. “Temos mantido contato constante com a OMS e com o Comitê Rio-2016, e estamos trabalhando para dar as melhores condições a nossa equipe.”
CARTILHA – Chefe médico do Comitê Rio-2016, João Grangeiro teve de responder a dezenas de questionamentos de jornalistas estrangeiros no início do mês, quando os casos de microcefalia ligados à zika se tornaram emergência mundial. Numa das respostas, Grangeiro disse que os atletas seriam orientados a manter as janelas fechadas durante a permanência no Rio, declaração considerada controversa por alguns em virtude do calor na capital fluminense.
A medida, porém, é uma das que deverão ser tomadas por todas as delegações, e segue protocolo da OMS (Organização Mundial de Saúde). “Estamos orientando a adoção de medidas preventivas, como o uso de repelentes, manter as janelas fechadas na Vila Olímpica e nos hotéis, e aproveitar o ar-condicionado”, reforçou, à reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
“Mantemos contato constante com os comitês olímpicos nacionais, com as federações, com as delegações que vêm para os eventos-teste, e estamos pedindo que se siga o que foi preconizado pela OMS e pelo COI (Comitê Olímpico Internacional)”, continuou.
O médico afirma que o Rio-2016 está com “o nível de preocupação adequado” para esse tipo de situação. “A gente entende que o problema existe, que estamos diante de um surto, de uma epidemia”, comentou. “Mas, do ponto de vista médico, 80% dos casos de zika é benigno”, completou.
Grangeiro sustentou ainda que a preocupação com o combate ao mosquito transmissor do vírus existia por parte do Comitê Rio-2016 muito antes da própria disseminação da doença. “A gente já vinha acompanhando o histórico de outros anos de infestação do Aedes e trabalhado em cima disso desde muito antes do zika, porque o mosquito também é o vetor da dengue. Sempre foi o nosso foco”, garantiu.
Segundo o comitê, durante a realização dos Jogos equipes farão inspeções diárias em todas as instalações olímpicas. Neste momento que algumas instalações esportivas ainda estão em obras, também existe o cuidado para evitar focos de depósito das larvas dos mosquitos.