Com exterior, Bolsa fecha pelo 3º dia em alta, de 3,67%, aos 77.709,66 pontos

O Ibovespa fechou nesta quinta-feira, 26, em alta pela terceira sessão seguida, algo que não acontecia desde o intervalo entre os dias 3 e 5 de fevereiro, quando o principal índice da B3 estava entre os 114,6 mil e os 116 mil pontos. Hoje, o índice teve ganho mais brando, de 3,67%, aos 77.709,66 pontos no fechamento, após avanço de 7,50% ontem e de 9,69% na terça-feira. Assim como nas sessões anteriores, a recuperação foi induzida do exterior, com desempenho positivo nos mercados acionários da Europa e dos EUA. Em Nova York, o índice Dow Jones avançou hoje 6,38%, após alta de 2,39% no dia anterior e de mais de 11% na terça-feira, quando teve seu maior ganho diário desde 1933.

A aprovação no Senado dos EUA do pacote de US$ 2 trilhões e a indicação de que o G-20 pode desembolsar até US$ 5 trilhões contra o coronavírus, entre outras iniciativas sem precedentes de governos e BCs para dar amparo à economia global, contribuem para a retomada, ainda que parcial, dos ativos de risco. No Brasil, contudo, uma série de fatores de incerteza coloca em questão a extensão e o fôlego da recuperação observada até aqui na semana – o ganho acumulado no período chega agora a 15,86%, após cinco semanas de perdas consecutivas. O nível de fechamento de hoje foi o mais alto desde 13 de março, quando o índice foi a 82.677,91 pontos.

O giro da sessão totalizou R$ 30,1 bilhões, com o Ibovespa tendo oscilado entre 74.923,27 pontos na mínima e 78.846,34 pontos na máxima do dia. No mês, o índice perde 25,40% e, no ano, 32,80%. Na ponta positiva, CVC, uma das ações mais punidas pela crise do coronavírus, subiu hoje 32,41%, seguida por Braskem (+28,03%). Na ponta negativa, B2W cedeu hoje 6,48%, seguida por Pão de Açúcar (-5,26%) e Suzano (-4,43%).

Entre as blue chips, Petrobras PN virou no fim e subiu 0,49% e a ON, 0,34%, em dia de queda nos preços do petróleo após a Agência Internacional de Energia (AIE) ter estimado que a demanda mundial pela commodity pode cair até 20 milhões de barris/dia, o equivalente a 20% da procura global, em razão da quarentena imposta a bilhões de pessoas. A ação ordinária da Vale, por sua vez, fechou em alta de 2,82%, mesmo com o leve desempenho negativo do minério de ferro no fechamento em Qingdao (-0,65%).

"O mercado continua reagindo bem à magnitude sem precedentes do que tem sido feito lá fora pelos governos, se não para evitar ao menos mitigar os efeitos, inclusive econômicos, que serão brutais", diz Mauricio Pedrosa, gestor da Áfira Investimentos.

Se, por um lado, o endereçamento de pacote trilionário nos EUA e a concessão de suporte público mesmo em governos europeus liberais, como o do Reino Unido, animam as bolsas estrangeiras no momento, e por extensão a B3, por outro há dúvidas maiores, no Brasil, com relação ao que de fato o governo fará e mesmo quanto ao ritmo de acentuação da curva da covid-19. "Não há razões para disparar rojões por aqui", diz Shin-Lai, estrategista da Upside Investors Research, que recomenda cautela aos investidores.

A incerteza sobre a reação ao coronavírus se acentuou após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, anteontem, no qual voltou a tratar a pandemia como um fenômeno menor e muito passageiro. "A impressão é a de que o governo tende a esperar mais para conhecer a curva da doença antes de optar pela ação econômica. Deve colocar a mão no bolso à medida que o problema for se acentuando, contrariando a visão da maioria dos economistas, mesmo daqueles mais preocupados com o aspecto fiscal", diz Shin. Para o estrategista, há uma situação de excepcionalidade, compreendida por governos do exterior, mas que não foi ainda aceita aqui, especialmente pelo presidente Bolsonaro.

"Parece haver boa vontade no Congresso, especialmente do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com relação ao momento excepcional e ao que precisa ser feito. Mas, dentro do governo, há hesitação, especialmente a partir desse discurso de Bolsonaro", acrescenta Shin, que prevê um desgaste político entre Presidência, Congresso e governadores estaduais que irá além do momento mais grave do coronavírus. "Será preciso ver como esta relação será reconstruída", acrescenta.

"No Brasil, há um debate legítimo sobre a extensão do isolamento, mas a posição favorável ao modelo horizontal tem se mostrado majoritária, na medida em que se deseja evitar sobrecarga ao sistema de saúde. Esta é a posição que deve prevalecer por enquanto, até que haja clareza maior sobre a curva da doença", observa Pedrosa, da Áfira.

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