Candidato ao pódio na Olimpíada, o polo aquático vai abrir mão de promover a modalidade às vésperas dos Jogos do Rio. Um conflito político entre os clubes – liderados pelo Esporte Clube Pinheiros – e a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) vai fazer com que o Troféu Brasil, tradicional competição nacional, que deveria começar nesta quarta-feira, seja realizada com apenas quatro clubes, sendo um deles da categoria master.
De acordo com o Pinheiros, também Flamengo, Fluminense, Sesi-SP, Paineiras do Morumby, Paulistano, Hebraica, Tijuca, Internacional de Regatas (de Santos) e Jundiaiense (de Jundiaí), em conjunto, decidiram não participar da competição “como consequência de um processo de organização própria”. Só o Botafogo, que agora tem a base da seleção brasileira, e a ABDA Bauru, do interior de São Paulo, furaram o boicote.
Oficialmente, o Pinheiros explica assim a decisão, rejeitando o termo “boicote”: “Devido à insatisfação com o atual cenário do polo aquático no Brasil e após não ter havido considerações ou retorno à inúmeras reivindicações em prol do avanço na gestão da modalidade, encaminhadas às autoridades a qual competem a organização da competição (o Troféu Brasil), os clubes se reuniram e optaram por não participarem da mesma”.
O principal ponto de atrito é com relação ao posto de chefia do polo aquático dentro da CBDA. Ricardo Cabral, professor da Universidade Federal do Rio (UFRJ), vem desempenhando esse papel há algum tempo. Em 2014, passou a ficar abaixo de Marcos Maynard, um famoso produtor musical ligado ao polo aquático do Pinheiros. Foi de Maynard a proposta de naturalizar jogadores para a seleção.
No ano passado, Maynard teria levado ao presidente da CBDA, Coaracy Nunes, um ultimato: “ou ele ou eu”. Coaracy manteve Cabral – agora consultor – e Maynard deixou seu cargo. Desde então, tem feito oposição à CBDA e liderado os clubes, que no fim do ano passado já se recusaram a disputar um torneio denominado “Final Six”, que deveria contar com os seis primeiros colocados da Liga Nacional, no fim de novembro. Só o Botafogo furou o boicote, usando as datas para jogar amistosos contra a seleção.
“Do ponto de vista promocional, o polo aquático está dando um tiro no pé. Seria o momento de apresentar o polo aquático para o Brasil. Escolheram a pior hora de fazer isso”, critica Cabral. A reportagem não conseguiu contato com Maynard e o Pinheiros só se posicionou em forma de nota oficial.
De acordo com Cabral, o Troféu Brasil esvaziado não prejudica a preparação da seleção brasileira. Os 17 jogadores que são convocados de forma recorrente estão jogando em clubes europeus e o calendário no Velho Continente está paralisado para a disputa do Pré-Olímpico, do qual o Brasil não participa.
Nas últimas semanas a seleção realizou treinamentos em Montenegro e na Rússia, jogando partidas amistosas contra as seleções locais. A ideia era que os jogadores reforçassem seus clubes brasileiros para o Troféu Brasil, mas só o Botafogo fará isso. O restante do elenco da seleção pertence a Sesi e Pinheiros, principalmente.
Além da equipe de General Severiano, que vai receber a competição de quinta a domingo, também estarão no Troféu Brasil os times do Iate Clube Brasília, da ABDA Bauru e do Guanabara. Este último clube, do Rio, deverá disputar a competição com um elenco da categoria master.