Esportes

Até apagada, tocha olímpica faz sucesso em revezamento não oficial

O fogo olímpico é só um e, até chegar ao Maracanã, para a cerimônia de abertura do Rio-2016, vai percorrer um percurso linear. As tochas, entretanto, são mais de 12 mil e podem estar em vários lugares ao mesmo tempo. Nesta quarta-feira, uma delas percorreu duas cidades do interior de São Paulo, com direito a revezamento, camisetas especiais, ex-atletas olímpicos, esportistas locais, estudantes e batedores. Só ficou faltando o fogo sagrado.

Para as centenas de crianças e adolescentes que interagiram com a tocha em Araçariguama, a 50km de São Paulo, a ausência do fogo olímpico não fez muita diferença. O que valia, ali, era a oportunidade do contato com algo que elas só veriam pela televisão, não fosse a iniciativa das irmãs Vanira e Vânia Hernandes, ex-jogadoras da seleção brasileira de basquete.

“Se a gente, que tem toda essa experiência, se emocionou quando recebeu o convite para participar do revezamento oficial, imagina o sentimento dessas crianças, que nunca tiveram acesso a nada disso?”, questiona Vanira, consultora de projetos esportivos e funcionária da prefeitura de Araçariguama.

Como as irmãs só vão participar do tour oficial em 17 de julho, em Sorocaba (SP), elas pediram emprestada a tocha que a ex-jogadora de tênis Patrícia Medrado carregou no mês passado, em Salvador (BA). Ainda que seja uma peça histórica, a tocha é descartável em sua função original após 15 minutos de uso. Um dispositivo impede que ela seja reabastecida de gás e volte a acender.

Em Araçariguama, a tocha apagada passou por uma dúzia de mãos em um trajeto de 15 minutos entre a prefeitura e o ginásio de esportes da cidade. Ao seu lado durante todo o percurso, uma outra tocha, infinitamente mais simples – uma lata com um chumaço de algodão banhado em álcool -, levava o fogo dos Jogos Escolares do Estado de São Paulo (JEESP), que teve sua fase regional aberta em Araçariguama.

“A tocha tem todo um simbolismo aqui, ela serve para aproximar as crianças do esporte”, opina Branca, convidada para participar do tour oficial no próximo dia 20, em Campinas, junto com a irmã Magic Paula. “A gente vem aqui fazer a mensagem do esporte olímpico. O esporte serve para unir”, completa a também ex-jogadora Helen Luz, que chegou a reclamar nas redes sociais por não poder carregar a tocha perto de casa e, após a repercussão do caso, foi convidada a participar do revezamento em Jundiaí.

Longe do holofotes do tour oficial, a prefeitura de Araçariguama diz não ter tido nenhum gasto com o evento – camisetas com os anéis olímpicos foram pagas pelos atletas. A vizinha São Roque aproveitou a deixa e convidou Vanira e sua tocha empresada para também se apresentarem por lá. Mais uma vez, crianças eram maioria entre os espectadores.

“A gente entende que é algo simbólico e, com o fogo, daria na mesma. Por ser uma cidade pequena, nunca entraria no tour da tocha. É uma emoção, de qualquer forma”, opina Roseli dos Santos, intérprete de línguas em uma escola de Araçariguama e uma das espectadoras do evento.

RIO-2016 ELOGIA INICIATIVA – O Comitê Organizador do Rio-2016 achou a ideia “o máximo”. “É uma prova de que o revezamento está engajando a população. O objetivo da tocha está sendo cumprido, que é levar a mensagem da chegada dos Jogos ao Brasil”, diz Adriana Garcia, diretora de comunicação.

Rígido quanto à proteção da marca, o Rio-2016 admite que não cogitava que o revezamento fosse se ramificar, transformando os carregadores em embaixadores informais da tocha. “Significa que eles ficaram felizes, honrados, emocionados. O que a gente quer é que eles espalhem essa emoção para a comunidade deles.”

É isso que fará Carlos Lima, coordenador de Educomunicação na Prefeitura de São Paulo. Ele conduziu a tocha em Petrolina (PE) e promete levar o objeto para 49 unidades do Centro Educacional Unificado (CEUs) e do Centro de Educação e Cultura Indígena (CECIs) até 12 de agosto.

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