Esportes

COI lava mãos, não suspende Rússia e deixa decisão para cada federação esportiva

O Comitê Olímpico Internacional atendeu ao pedido das autoridades russas e optou por não suspender toda a delegação de Moscou dos Jogos do Rio, numa decisão que promete abrir uma crise política sem precedentes. No lugar de tomar uma decisão, o COI anunciou que cabe a cada federação esportiva testar todos os atletas e decidir se os esportistas russos devem, ou não, ir aos Jogos.

“O COI não aceitará atletas russos, salvo se cumprirem as seguintes condições”, indicou a entidade. Na lista, ela exige que as federações realizem testes em cada um dos atletas russos, usando padrões internacionais.

Neste domingo, a entidade se reuniu de forma extraordinária em Lausanne (Suíça) para tomar uma decisão depois que uma investigação independente liderada pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) revelou que o governo russo de Vladimir Putin fraudou os testes de laboratório antes e durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi, para beneficiar seus atletas e em dezenas de outros eventos.

A Wada havia pedido que nenhuma delegação russa estivesse no Rio e uma carta de 14 países diferentes também pressionava a entidade para adotar uma postura dura. Mas, alegando que não seria justo punir todos os 385 atletas russos sem considerar quem estaria limpo, o COI optou por apenas exigir que cada federação esportiva tome uma decisão. Os únicos atletas impedidos de ir ao Brasil serão os 67 do atletismo – a saltadora Darya Klishina, radicada nos EUA, foi liberada.

A decisão promete gerar duras críticas contra o COI, que garante que tem tolerância zero com o doping. A investigação havia provado que “o Ministério dos Esportes dirigiu, controlou e coordenou a manipulação dos resultados de atletas, ajudados pelo FSB (o serviço secreto russo)” , disse o chamado Relatório McLaren.

O levantamento também concluiu que o serviço secreto mantinha um freezer clandestino para ajudar na operação para trocar as amostras dos resultados. A metodologia passou a ser conhecida como a de “fazer desaparecer testes positivos”. “Todos os esportes foram afetados”, alertou a investigação. Entre as modalidades identificadas estão atletismo, esportes de inverno e a maioria dos esportes da Olimpíada de verão.

O informe produzido pelo advogado canadense Richard McLaren à pedido da Wada foi feita depois que o ex-diretor do laboratório russo Grigory Rodchenkov revelou jornal ao The New York Times que, durante os Jogos de Sochi, recebeu ordens para trocar as amostras de sangue e urina de dezenas de atletas. Pelo menos 15 deles ganharam medalhas.

Segundo Rodchenkov, isso ocorreu “em cooperação com o Ministério dos Esportes” e que a mesma prática foi realizada antes de Londres, em 2012, e do Mundial de Atletismo de Moscou, em 2013. Em 2015, a troca de amostras também ocorreu no Mundial de Esportes Aquáticos, em Kazan. McLaren, em seu informe, confirmou a suspeita.

A investigação ainda aponta que o governo de Putin “dirigiu e controlou” o esquema de doping, usando até mesmo os serviços de inteligência da ex-KGB. A ordem vinha do Ministério dos Esportes, trocando as amostras de atletas indicados pelo governo. “O governo estava envolvido nesse esquema”, confirmou.

Em Sochi, a manipulação também ocorreu. Mas, com a vistoria internacional, os russos tiveram de se adaptar para fazer desaparecer as amostras. O FSB foi acionado e nenhum teste positivo para atletas russos era feito sem o serviço secreto. Os testes eram colhidos regularmente. Mas pela noite era passado para um prédio ao lado, onde ficava uma operação ilegal fora da sala. Ali, as amostras eram trocadas. “Assim, os atletas podiam competir sabendo que não seriam pegos”, disse McLaren.

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