Com a inclusão de cinco novas modalidades no programa (surfe, skate, beisebol/softbol, caratê e escalada esportiva), o Comitê Olímpico do Brasil (COB) vai reconhecer cinco novas entidades como confederações olímpicas e incluí-las no rateio dos recursos da Lei Agnelo/Piva. Atualmente, a menor cota é de R$ 2,2 milhões para as confederações de menor expressão e o teto é R$ 4,5 milhões – são 29 entidades no País. Em 2016, R$ 98 milhões foram distribuídos entre todas.
Essas confederações, que até agora trabalharam com orçamento enxuto e quase no amadorismo, receberão até os Jogos de Tóquio-2020 pelo menos R$ 8 milhões para trabalhar por uma medalha para o Brasil na Olimpíada asiática. Entre as modalidades, há muita discussão sobre quem é que terá direito a esta verba pública – há mais de uma confederação brasileira em algumas modalidades – e a expectativa sobre como estes recursos poderão ser utilizados.
Há três anos, a falta de recursos para pagar uma taxa de R$ 5 mil rachou a comunidade de praticantes de escalada no Brasil. A Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME), fundada em 2004, se viu sem verba para pagar duas federações internacionais, as rivais UIAA (alpinismo e escalada) e IFSC (escalada). Optou pela primeira.
A consequência daquela decisão fará com que a verba destinada ao ciclo olímpico vá para as mãos de outra uma entidade nacional, a Associação Brasileira de Escalada Esportiva (ABEE), que conta com apenas 87 atletas associados, nenhuma federação estadual filiada e um orçamento que, hoje, não chega a R$ 25 mil por ano.
Quando anunciar o rateio de 2017, o COB não deve, ainda, incluir a nanica ABEE, criada por cinco escaladores em março de 2014 e que, portanto, só em março de 2017 terá os três anos de existência necessários para receber recursos públicos.
Quando houve o racha da CBME, todas as federações estaduais ficaram com a entidade mais antiga, que tem mais de 3 mil atletas associados, contra os 87 da ABEE. Mas como quem paga a filiação à federação internacional que organizará as provas de escalada dos Jogos de Tóquio é a ABEE, será ela a ser reconhecida pelo COB, desde que cumpra pré-requisitos, como ter três federações estaduais, que ainda precisarão ser criadas.
“Serão polos regionais. Um em São Paulo, outro no Rio, outro no Sul, outro para toda região Centro-Oeste, e assim vai. Não adianta querer criar uma federação em determinados Estados porque não tem uma comunidade”, disse a presidente Janine Cardoso, jornalista de aventura e escaladora de alto rendimento – ela está prestes a encerrar sua carreira.
Quando o dinheiro entrar, tudo mudará para a ABEE, que só organiza dois eventos por ano e que tem a sua sede na casa de Janine. Foi ela quem criou a entidade e a administra. Com mais recursos, quer construir um centro de treinamento, contratar técnicos e enviar atletas para eventos internacionais.
Hoje, quase toda a receita vem de filiações de atletas, a maioria deles também associados à CBME, que tenta reunificar a modalidade. “Essa separação é prejudicial ao esporte. Desde o início a gente nunca quis a separação. A gente sempre achou que dividia recursos, atletas, esforço, voluntários, em um mundo que é micro. Juntos somos mais fortes”, disse Kika Bradford, presidente da CBME, alijada do movimento olímpico.
SKATE – Ainda sem saber como será a distribuição das 40 vagas olímpicas (20 por gênero), a escalada torce para haja uma reserva por continente – só assim para conseguir classificar alguém. Diferente da situação do skate, que já sabe que terá direito à cota máxima, igual à dos Estados Unidos, de três atletas em cada uma das quatro provas olímpicas.
O Brasil é potência na modalidade, com mais de 600 skatistas profissionais, mas a Confederação Brasileira de Skate (CBKS) vive do esporte pelo prazer, não pelo dinheiro. Tanto que se descreve como “Robin Wood”: não cobra taxa de filiação e apoia torneios menores com a taxa de homologação que cobra de eventos como o da Mega Rampa. Sobrevive com menos de R$ 100 mil ao ano.
Todos que se dedicam à confederação são voluntários. O presidente Marcelo Santos tem um empreendimento na Bahia e quem mais frequenta o escritório compartilhado com outras empresas na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, é o vice-presidente Edson Scander.
O skate não forma “seleções brasileiras”. Quem quer competir no exterior, hoje, tem que trilhar seu próprio caminho em ligas profissionais destes países. Um circuito mundial só será criado em 2019 para selecionar os atletas para Tóquio. A adequação à cultura olímpica não promete ser fácil. Exemplo: contratar um técnico não está nos planos. “Quem fizer isso vai virar piada. Isso não tem nada a ver com skate”, avisou Scander.
BEISEBOL – Neste sentido, o beisebol, que foi olímpico até 2008, terá uma adaptação muito mais fácil. A Confederação Brasileira de Beisebol e Softbal (CBBS) tem um centro de treinamento, mantido com recursos da Lei de Incentivo ao Esporte, tem dois funcionários, sede própria, vizinha ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
O dinheiro, porém, é contado. A CBBS convoca para competições internacionais, mas quem paga a viagem são os pais dos jogadores na base e os próprios atletas no adulto. A ida às eliminatórias do Mundial só foi possível porque a Major League Baseball (MLB) aposta no crescimento da modalidade no País e pagou a conta, inclusive fornecendo uniformes. Quem for ao Sul-Americano, porém, terá que comprá-los por conta própria.
A CBBS ainda aguarda os recursos da Lei Piva caírem na conta para se planejar. “Vamos dar andamento nas coisas que têm dado certo. Temos alguns projetos sociais. A partir deles, a seleção tem sido muito beneficiada por crianças que vieram deles”, disse Estevão Sato, vice-presidente da entidade, que hoje vive com R$ 300 mil ao ano.