Não era só o fã de tênis que estava com saudade de uma final de Grand Slam entre Rafael Nadal e Roger Federer, numa das maiores rivalidades da história do esporte. Eles também não viam a hora de fazer, de novo, um jogo como o deste domingo, na final do Aberto da Austrália. Um duelo épico em Melbourne, que terminou com vitória do suíço por 3 sets a 2, com parciais de 6/4, 3/6, 6/1, 3/6 e 6/3. O último ponto, na linha, que precisou ser revisto no vídeo, foi só o desfecho de uma partida emocionante, em que os dois veteranos pareciam dar o melhor de si a cada ponto, principalmente no set final, em que o suíço esteve impecável, vencendo cinco games em sequência.
Foi um retorno e tanto para Roger Federer, que passou boa parte da temporada passada no estaleiro, por causa de uma lesão no joelho, sofrida justamente no Aberto da Austrália do ano passado. Foram três meses de afastamento entre janeiro e abril e depois mais seis meses sem jogar. Antes de estrear em Melbourne, ele não entrava em quadra no circuito da ATP desde Wimbledon.
O suíço não vencia um Grand Slam desde 2012, quando ganhou em Wimbledon pela sétima vez. No Aberto da Austrália, sua única taça datava de 2010 – agora, é bicampeão. Nas seis edições seguintes, caiu cinco vezes na semifinal. Na busca pela 18.ª taça, nos últimos quatro anos, perdeu três decisões para Novak Djokovic. Na carreira, tem 89 títulos no circuito profissional.
Pelas condições físicas e o avançar da idade – está com 35 anos -, Federer pela primeira vez na carreira precisou lidar com a desconfiança. O influente jornal britânico The Telegraf, por exemplo, escreveu em maio a reportagem: “Por que Roger Federer nunca mais ganhará um Gran Slam”. Quem duvidou do maior tenista de todos os tempos estava errado, claro.
Ao alcançar sua 18.ª taça de Grand Slam, Federer se isola ainda mais como o maior campeão de eventos major, abrindo folga sobre o próprio Nadal que, assim como Pete Sampras, tem 14 taças. São cinco títulos no Aberto da Austrália e também no US Open, sete em Wimbledon e apenas um em Roland Garros.
A vitória neste domingo ainda ajudou a diminuir um pouco a freguesia para Nadal. A final em Melbourne foi a 35.ª partida entre eles e apenas a 12.ª vitória de Federer. Das nove finais de Grand Slam entre os arquirrivais (e amigos), são só três títulos para o suíço – as outras vitórias haviam sido em Wimbledon. Considerando todo o circuito, foi o oitavo título de Federer contra seu maior rival, em 22 decisões.
Mesmo tendo jogado apenas seis torneios disputados nas últimas 52 semanas, Federer vai aparecer no 10.º lugar do ranking mundial na atualização da próxima segunda-feira, enquanto Rafael Nadal, ganhando três posições, será o sexto.
Ao alcançarem a final, porém, eles mostram que o Big Four do tênis segue ativo. Na campanha, o espanhol deixou para trás o francês Gael Molfins (sexto do ranking) e o canadense Milos Raonic (terceiro). Federer bateu o japonês Kei Nishikori (quinto) e o compatriota Stan Wawrinka (quarto). Nenhum dos dois deve nada, hoje, para Andy Murray ou Novak Djokovic, eliminados respectivamente pelo alemão Mischa Zverev e pelo usbeque Denis Istomin.
Os dois primeiros do ranking mundial chegaram a Melbourne como favoritos, mas quem brilhou no torneio inteiro foram os veteranos, jogando um tênis de primeiríssimo nível. Na final deste domingo, foram 37 break points, sendo 27 deles salvos. Muitos, óbvio, em momentos cruciais.
O jogo começou com os dois tenistas sacando bem e confirmando seus serviços. A primeira quebra veio só no sétimo game, com Federer aproveitando um erro não forçado de Nadal, abrindo 4/3. Nos seus dois serviços seguintes, o suíço só cedeu um ponto ao rival, garantindo o 6/4.
O segundo set foi de Nadal, que parecia ter estudado Federer no primeiro set para colocar tudo em prática a partir de então. Foram duas quebras seguidas, abrindo 4/0. O suíço não se encontrou, com baixo aproveitamento no saque e 15 erros não-forçados – contra quatro de Nadal. Ele até devolveu uma quebra no quinto game, mas viu o espanhol levar por 6/3.
O terceiro set poderia ter tido o mesmo destino se Federer não salvasse dois break points logo no primeiro game. O suíço ganhou moral, cresceu sobre Nadal, e foi ele a conseguir a quebra, no game seguinte. Depois, voltou a quebrar o espanhol no sexto game. Nadal tentou reagir, conseguiu dois break points no game seguinte, mas Federer estava determinado. Não só confirmou o saque como fez 6/1.
Com uma força mental que o torna um tenista único, Nadal renasceu no quarto set. Colocou Federer para correr no quarto set, angulando as jogadas. Com excelente aproveitamento no saque e errando pouco (apenas três erros não forçados no set), Nadal voltou ao jogo conseguindo a quebra no quarto game. Sem ser ameaçado, fechou em 6/3.
Antes do quinto set, Federer pediu atendimento e foi para o vestiário. Na volta, encontrou o espanhol determinado. Conseguiu dois break points logo no primeiro game, aproveitou um deles num erro do suíço e largou na frente. Federer tentou reagir no game seguinte, mas Nadal, com winners, salvou ambos e abriu 2/0.
As dores na coxa não cessaram e Federer novamente precisou pedir atendimento médico. Com 3/1 no placar e um rival machucado, Nadal parecia caminhar para mais uma vitória. Só que do outro lado estava o melhor tenista da história.
Federer devolveu a quebra no quarto game e mostrou que estava no jogo. Os dois pareciam ler onde o rival sacaria. Foram 15 break points no set, com o suíço aproveitando-os melhor. Quebrou o rival também no oitavo game, sacando para o jogo no nono. Nadal ainda tentou voltar à partida, teve duas chances de quebra, mas Federer respondeu com um ace e um winner. O espanhol ainda salvou um match point e acabou derrotado numa diagonal que bateu na linha.