A seleção brasileira treina nesta segunda-feira pela primeira vez em Melbourne, na Austrália, onde nesta sexta-feira enfrentará a Argentina e, quatro dias depois, os donos da casa. Os amistosos marcarão o aniversário dos primeiros 12 meses de Tite à frente do time nacional. Sob a batuta do treinador, a equipe registrou nove vitórias consecutivas, recuperou a liderança do ranking mundial da Fifa e se classificou antecipadamente para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia.
Tite foi anunciado oficialmente como técnico da seleção em 20 de junho do ano passado, seis dias após Dunga ser demitido devido à péssima campanha na Copa América Centenário, nos Estados Unidos – o Brasil acabou eliminado na primeira fase -, e à situação preocupante nas Eliminatórias. À época, a seleção brasileira ocupava a sexta colocação e estava fora da zona de classificação para o Mundial da Rússia.
Ao assumir, Tite demonstrava um misto de felicidade e preocupação. Ao mesmo tempo em que dizia estar realizando um sonho por treinar o Brasil, era realista em relação ao trabalho duro que teria na terra árida deixada pelo seu antecessor. “O foco é a classificação ao Mundial e não estamos em uma zona de classificação. Vamos trabalhar em cima disso”, disse, em sua primeira entrevista como técnico da seleção. “Claro que o Brasil corre risco (de ficar fora da Copa). Estou aqui porque infelizmente o resultado não veio. É fato real”.
Tite também soube se distanciar do chefe Marco Polo del Nero, investigado nos Estados Unidos e Suíça por supostamente participar de esquemas ilícitos da CBF – seu padrinho e antecessor José Maria Marin está em prisão domiciliar em Nova York.
Em campo, na parte que lhe pertencia, Tite tinha de passar pelo Equador na altitude de Quito e depois Colômbia, na Arena Amazônia, em Manaus, como primeiros desafios. As duas equipes estavam à frente do Brasil na tabela de classificação. A estreia com 3 a 0 sobre os equatorianos serviu de alento,e a vitória na sequência por 2 a 1 sobre os colombianos deixou a impressão de que a seleção começava a voltar aos trilhos.
A partir daí, o Brasil recuperou o apoio da torcida, voltou a se impor em campo e emendou uma sequência inédita de vitórias. Foram oito seguidas nas Eliminatórias, além do 1 a 0 sobre a Colômbia, em janeiro, em amistoso beneficente – na partida, realizada no estádio do Engenhão, no Rio, apenas atletas que atuavam no País foram chamados.
Os bons resultados fizeram Tite se tornar uma unanimidade nacional, algo raríssimo no futebol brasileiro. Nas redes sociais, memes começaram a surgir com o treinador usando a faixa de presidente da República. Mais do que uma brincadeira, muitos brasileiros chegaram a considerar a possibilidade como algo real – em março, um instituto de pesquisas apontou que Tite seria votado por 15% dos brasileiros se decidisse concorrer à presidência. O técnico, por sua vez, classificou a ideia como “uma irresponsabilidade”.
Dentro de campo, a sequência de vitórias fez o Brasil se tornar a primeira seleção do mundo a garantir vaga na Copa do Mundo de 2018 – além, é claro, dos donos da casa. E com a seleção confirmada no Mundial, o treinador completa o seu primeiro ano à frente do Brasil com a chance de fazer alterações já visando a participação na competição do ano que vem.
Os dois amistosos deste mês serão os primeiros que permitirão a Tite fazer os testes que sempre desejou. Sem Neymar, poupado, ele poderá avaliar como o Brasil se sai quando não puder contar com a sua principal estrela. O técnico também terá a chance de testar jogadores em outras posições. Reservadamente, o treinador já manifestou o interesse em colocar o meia Philippe Coutinho, do Liverpool, um pouco mais recuado.
Os jogos na Austrália também serão uma chance de jogadores que andavam esquecidos demonstrarem que ainda têm condições de disputar a próxima Copa do Mundo. O melhor exemplo é o zagueiro David Luiz, do Chelsea, convocado por Tite pela primeira vez e considerado pelo treinador como um atleta “versátil”.