Em meio a discussões sobre o futuro do saibro no Rio Open, maior torneio de tênis do Brasil e da América do Sul, a Federação Francesa de Tênis cobrou os dirigentes brasileiros da modalidade nesta quarta-feira ao pedir uma maior valorização da terra batida, superfície na qual é disputado Roland Garros, a maior competição de tênis da França.
O “puxão de orelha” foi dado pela vice-presidente da entidade francesa, Patricia Froissart, em Florianópolis, durante evento de lançamento do Rendez-Vous à Roland Garros, torneio juvenil que é fruto de parceria entre a Federação Francesa e a Confederação Brasileira de Tênis (CBT).
“O saibro deve ser valorizado no Brasil para que surjam futuros campeões brasileiros em Roland Garros e para um dia, quem sabe, encontrar um sucessor para Guga”, afirmou Froissart, ao exaltar a trajetória do tênis brasileiro sobre o saibro, com destaque, é claro, para Gustavo Kuerten, tricampeão de Roland Garros.
“Todo o desenvolvimento do Guga foi feito sobre o saibro, que é a melhor superfície para o nosso esporte, por ser exigente tanto fisicamente quanto mentalmente, até mesmo estética e artisticamente falando”, declarou a vice-presidente da Federação Francesa.
As declarações da dirigente em solo brasileiro acontecem quase duas semanas depois do fim do Rio Open. Durante a disputa da competição carioca, um dos assuntos mais debatidos por tenistas, fãs e até pelo diretor do torneio foi a possível troca de piso, do saibro para quadra dura, no futuro.
Em recente entrevista exclusiva ao Estado, Luiz Fernando Carvalho, diretor do Rio Open, admitiu que a troca é uma possibilidade real para os próximos anos, podendo coincidir com uma mudança de sede. O torneio, assim, deixaria o Jockey Club para ser disputado no Centro Olímpico de Tênis, de quadra dura. A ideia foi reprovada por tenistas brasileiros e até estrangeiros. Até mesmo Guga se mostrou contra a troca, ao considerar que o saibro traz vantagem para os atletas da casa.
A mudança de piso no Rio Open envolve um objetivo maior da direção do torneio, que seria uma mudança radical na gira de saibro da América do Sul. Em negociação com dirigentes dos Torneios de Quito e de Buenos Aires e do Brasil Open, Luiz Carvalho prevê um giro em quadra dura, abandonando o saibro. Numa meta mais ousada, o diretor sonha até em transformar o Rio Open em Masters 1000, categoria superior a atual, de ATP 500.
Esta inclinação dos torneios sul-americanos em largar o saibro preocupa a Federação Francesa de Tênis, que não quer ver o piso de Roland Garros perder prestígio no circuito profissional. “Sim, com certeza isso nos preocupa”, afirmou Patricia Froissart, ao ser questionada sobre o assunto pelo Estado.
“O próprio Rendez-Vous é uma amostra de que estamos trabalhando para sedimentar o saibro ao redor do mundo”, argumentou a vice-presidente da Federação Francesa de Tênis. A dirigente cita como conquista recente da entidade a ida deste torneio juvenil para os Estados Unidos, que tem muita tradição em piso duro, com raros torneios sobre a terra batida.
Sendo disputado pela primeira vez em Florianópolis, o Rendez-Vous à Roland Garros é um torneio juvenil com chaves masculina e feminina, de 16 jogadores cada. Os campeões vão até Paris com todas as despesas pagas para enfrentar campeões de outros cinco países. Os vencedores garantem vaga direta na chave juvenil de Roland Garros. Nas últimas duas edições, em 2015 e 2016, a vaga masculina ficou com brasileiros.