Olhe para Sochi e veja Teresópolis (RJ). Exceto pela temperatura e pelo Mar Negro que banha a cidade pressionada nas montanhas do Cáucaso, há grandes semelhanças entre elas. Sochi é pequena, charmosa e tem um povo mais sorridente do que a maioria na Rússia. É neste lugar aconchegante que a seleção brasileira quer instalar o seu quartel-general durante a Copa do Mundo da Rússia, em 2018.
Em Sochi existe um sol a pino durante essa época do ano que faz as sorveterias lucrarem o suficiente para os meses tenebrosos de frio e neve. Há o complexo esportivo montado para receber os Jogos de Inverno, de 2014, com o estádio de futebol e o autódromo de Fórmula 1, o centro comercial com alguns shoppings modestos, a praia de areia escura e pedras, sem nenhum charme, e o tímido aeroporto.
Tudo isso em um raio de 8 a 10 quilômetros. As casinhas são de montanha, como em Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, onde a CBF confina a seleção em competições oficiais. As ruas são estreitas e, por isso, é preciso ter paciência com o trânsito, que vive num “para e anda”. O bom é que as distâncias são todas curtas.
Essa é Sochi, chamada por alguns de Riviera Russa. A impressão que se tem ao chegar na cidade ao sul do país é que o tempo demora a passar nela. E que os fatos se repetem todos os dias.
Nessa época do ano, mesmo período da Copa de 2018, a temperatura é de 30 graus Celsius. Pode chegar aos 40. Seu recorde é 43. Os russos adoram porque estão acostumados a sentir o frio duro do inverno por períodos rigorosos. Sochi é arborizada e limpa. A moçada quer o sol na cabeça. O russo fica de pele rosa no verão – cor adquirida pelo seu corpo, pernas e braços, sobretudo das mulheres, pela exposição aos raios solares. Anda-se por aqui de bermuda e chinelo.
Exceto por seu tamanho e pelo fato de ser encravada nas geladas montanhas do Cáucaso, o sol forte se aproxima do calor do Rio. Das quatro cidades-sede da Copa das Confederações (Moscou, Kazan e São Petersburgo são as outras), Sochi é a que mais espelha a vida brasileira. Por isso o técnico Tite pretende levar a seleção para a cidade durante o Mundial de 2018.
CONCORRÊNCIA – Um recepcionista de hotel informou ao Estado que Inglaterra e Alemanha também visitaram a cidade com o mesmo propósito do Brasil. As duas equipes ainda não se garantiram na Copa. Em 2014, o time do técnico Joachim Löw ficou na Bahia, em Santa Cruz da Cabrália. Foi lá que os alemães, com a simpatia, cordialidade e reverência aos baianos, começaram a sua caminhada rumo ao título mundial. A cidade nunca mais será a mesma. Os campeões querem fazer o mesmo de Sochi, que tem características parecidas.
Sochi sorri mais para o forasteiro também, mas nem de longe resolve a barreira da comunicação. O comunismo deixou o povo russo isolado por décadas e isso terá de ser superado com o tempo. Ninguém fala inglês, nem mesmo nos hotéis. Outros idiomas, nem pensar. Mas em Sochi existe uma maior disponibilidade dos locais para ajudar e se fazer entender. Isso talvez tenha a ver com a brisa do mar.
Não há preocupação das pessoas em caminhar pelas ruas ou praias durante a noite. Em Sochi as noites são brancas – de três a cinco horas apenas de escuridão. É preciso se acostumar a dormir com sol na janela. Na Copa das Confederações, poucos policiais foram vistos nas ruas.
Sochi parece ser uma cidade onde todos se conhecem. Alugar um carro pode ser boa ideia, pois as distâncias são curtas. Para dirigir é preciso regularizar a carteira de motorista no país. Sochi, como Teresópolis, tem suas principais atrações nas cachoeiras e lugares de esportes radicais, de água gelada. Há santuários dessa natureza nas imediações da cidade, como em Krasnaya Polyana e Rosa Khutor, ambas no distrito de Adler.
O Brasil ainda não se resolveu pela cidade, que briga com Moscou e São Petersburgo. Tite e Edu Gaspar, diretor de seleções da CBF, querem, se possível, fugir das grandes metrópoles. “A privacidade é nossa principal meta para escolher o local onde ficará a seleção. Privacidade para trabalhar”, disse Tite ao Estado. O Brasil estima trazer para a Rússia cerca de 50 pessoas entre jogadores, comissão técnica e membros da CBF.
O presidente Marco Polo del Nero não deixa o Brasil desde que foi acusado de envolvimento em situações ilícitas da entidade, em 2015. Não se sabe, portanto, se estará nessa caravana. Outra preocupação da comissão técnica é arranjar um lugar para as famílias dos jogadores. Tite quer evitar todos os problemas e deixar seu time o mais confortável possível para ganhar a competição.