O câmbio teve uma quinta-feira movimentada, com o dólar renovando sucessivas máximas, levando o Banco Central a fazer duas intervenções não previstas, ofertando ao todo US$ 1 bilhão em swap. Mesmo assim, o dólar fechou em novo nível recorde, influenciado por fatores externos, por conta do dia de fortalecimento generalizado da moeda americana no exterior, e também locais, principalmente o temor de piora fiscal do Brasil e os rumores de saída do ministro da Justiça, Sergio Moro. O dólar à vista fechou em alta de 2,22%, cotado em R$ 5,5287 e já acumula valorização de 38% em 2020.
No final da tarde, com o mercado à vista já fechado, o BC anunciou o terceiro leilão de swap do dia, de US$ 500 milhões. Antes do leilão, o dólar futuro para maio havia batido em R$ 5,56 e, com o anúncio, desacelerou o ritmo de valorização, fechando em R$ 5,53, em alta de 1,35%.
Hoje, assim como já havia ocorrido ontem, o real foi uma das moedas que mais se depreciou ante o dólar, considerando uma cesta de 34 divisas internacionais.
O analista em Toronto do Canadian Imperial Bank of Commerce (CIBC), Luis Hurtado, acredita que, mesmo neste nível, não há muito espaço para apreciação do real, diante da tendência de piora do crescimento econômico, das contas fiscais e de juros menores no Brasil. A tendência é que o dólar continue na casa dos R$ 5,00 a R$ 5,25. "A situação no Brasil é particularmente frágil, na medida em que uma rápida desaceleração no crescimento está pondo em risco o processo de ajuste fiscal, com possibilidade de um desvio em relação ao teto de gastos." Hurtado vê ainda o risco de que, na medida em que a economia piore, o apoio às reformas estruturais diminua.
"Acho que o teto de gastos terá que ser abandonado, ao menos temporariamente", afirma o economista sênior para a América Latina da consultoria internacional Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia. "Mas acho que o governo vai tentar trazer as contas fiscais de volta ao controle tão logo a crise atual comece a se dissipar", disse ele, alertando para o risco de piora dos mercados, da dificuldade de manter juros baixos e também de retomar o crescimento da atividade caso o ajuste fiscal não prossiga.
Em meio à crise, os economistas no Brasil do banco UBS, Tony Volpon e Fabio Ramos, tentaram traçar cenários para o câmbio. No pessimista, o dólar terminaria este ano em R$ 5,75 e ao final de 2021 chegaria a R$ 7,30. Já no otimista, a moeda americana fica, respectivamente, em R$ 4,45 e R$ 4,30. Qual dos cenários tende a prevalecer no câmbio, ressaltam, depende das respostas de política econômica do governo. No cenário-base, o dólar fica em R$ 4,95 ao final deste ano e em R$ 4,60 no próximo.