A poucos dias de embarcar para Seul, na Coreia do Sul, a estudante Letícia Stabelini, de 21 anos, acompanhava com apreensão os boletins diários do coronavírus. Aprovada para cursar um semestre de Relações Internacionais em uma universidade sul-coreana, ela confiava nas orientações dadas pela instituição, que garantia ter condições de receber os alunos estrangeiros. Com a explosão de casos no país, no entanto, ela desistiu do intercâmbio.
Até agora, além da China, 70 países tiveram casos – metade na Coreia do Sul, que ainda relatou 26 mortes. "As epidemias em Coreia do Sul, Itália, Irã e Japão são as maiores preocupações", disse ontem o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Ghebreyesus.
"Era o meu sonho ir para a Coreia do Sul, parei toda a minha vida para realizá-lo, fiz todo um planejamento, mas eu não posso arriscar minha saúde dessa forma", disse Letícia. Ela foi aprovada para o intercâmbio no ano passado, em um processo seletivo conduzido pela Universidade Federal do ABC (UFABC), onde está no 3.º ano de Relações Internacionais. A instituição brasileira mantém um acordo de mobilidade com a universidade sul-coreana para a troca de estudantes.
As aulas de Letícia teriam início hoje, mas a data foi adiada já no fim de janeiro, quando teve início o surto na China. "Eles enviaram um comunicado, dizendo que as aulas teriam início apenas em 16 de março para que os alunos que viessem da China ficassem em quarentena durante esse período e pudessem iniciar o ano letivo conosco", contou Letícia. A insegurança da jovem, no entanto, começou quando o número de casos se estendeu para a Coreia do Sul. "O que adianta isolar quem vem de fora, se eles também têm muitos casos?"
Ela e outros dois colegas da UFABC desistiram de viajar. Há ainda mais um estudante que cancelou a viagem para o Japão, que já tem 254 casos da doença confirmados. "Eu saí do meu estágio, tranquei disciplinas, corro até o risco de atrasar minha graduação. Mas é melhor do que arriscar minha saúde."
Dalmo Mandelli, assessor de Relações Internacionais da UFABC, disse que a instituição ajudou os alunos a procurar informações seguras sobre a situação, mas deu liberdade para que decidissem sobre manter ou não o intercâmbio.
A universidade receberia agora neste mês uma comitiva de professores de uma universidade chinesa para a assinatura de um acordo de mobilidade. O grupo cancelou a vinda. "Infelizmente, não sabemos se eles pretendem vir em outro momento. Era um acordo muito importante para nós, já que garantiria mais opções de intercâmbio para alunos, professores e pesquisadores", disse.
Em outras universidades do País também há uma sensação de insegurança. A Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani) também orientou os alunos para que observem as recomendações internacionais. Em nota, informou que as bolsas concedidas pela agência serão mantidas e podem ser usadas em outro momento, caso seja necessário adiar a viagem.
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também disse estar acompanhando o quadro, mas afirmou ainda não ter tido nenhum cancelamento ou prejuízo. Dois alunos da Unicamp estão na China, um em Pequim e o outro em Taiwan, e seguem os protocolos estabelecidos pelas universidades onde estudam. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>