Quando o bispo Edir Macedo inaugurou, na noite quinta-feira, 31, o seu Templo de Salomão, tinha entre os seus dez mil espectadores a presidente Dilma Rousseff (PT). O voto evangélico representa cerca de um quinto do eleitorado brasileiro. A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), a que pertence o templo, é considerada “mais dilmista”.
A competição por este eleitorado mais conservador fez com que Aécio Neves (PSDB) se reunisse com pastores no início de julho em um encontro que, a princípio, não foi divulgado. Eduardo Campos (PSB) também mantém conversas com lideranças evangélicas. A favor do pernambucano contam seu histórico católico e a figura de bom pai e marido – ressaltada por várias lideranças evangélicas – e sua vice, Marina Silva, ligada à Assembleia de Deus. “Para os meus eleitores e para uma boa parte dos evangélicos, o testemunho de família pesa na hora de escolher o candidato. Mas muitas vezes na política não se pode escolher o ideal, mas o possível”, afirma um parlamentar da bancada evangélica.
Além da vida pessoal, a posição sobre temas como descriminalização do aborto e união homoafetiva são fundamentais para a declaração de apoio. Um interlocutor duvida que algum dos principais postulantes ao cargo se posicione favoravelmente aos temas durante a campanha. “Se o fizer, é porque despreza nosso apoio”, disse.
Segundo o professor de Ciências da Religião Dario Rivera, a IURD acompanha tradicionalmente o candidato que considera ter mais chances de vitória – ainda que o apoio a Dilma seja menos explícito neste pleito.
Mas a petista deverá enfrentar uma rejeição forte de outras igrejas. O movimento anti-PT é liderado pelo pastor Silas Malafaia, presidente do Conselho de Pastores do Brasil. “O PT procura os evangélicos de quatro em quatro anos. Entre as eleições, eles são contra tudo que é de valor para os evangélicos. Estamos ficando mais espertos. Não adianta querer carregar pastor no colo”, afirmou ao Broadcast Político.
Os principais adversários de Dilma, Campos e Aécio, também não devem conseguir conquistar o apoio dos evangélicos antipetistas no primeiro turno. Malafaia defende uma união em torno do candidato do PSC, Pastor Everaldo. “Acredito que ele pode ter entre 7% e 10% e ser um fator muito interessante no segundo turno”, afirma. Para Dario Rivera, o discurso de que “irmão vota em irmão” pode se tornar forte e atrair voto da maioria pentecostal, principalmente na Assembleia de Deus.
A Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, liderada pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, é o principal grupo evangélico que ainda não definiu apoio para o pleito deste ano. Apesar de representar cerca de 60% dos fiéis, o grupo é considerado menos centralizado do que a ala que apoiará Everaldo. Em 2010, a entidade aderiu à candidatura do tucano José Serra
Questionado se não seria natural um apoio ao candidato do PSC, um pastor ligado à Convenção Geral lembrou que um presidente da República “não é um ministro da igreja”. “Ele tem de administrar toda a nação, terá que ter algumas qualidades inerentes ao cargo, alguma desenvoltura, vai representar a nação brasileira. Não gostaríamos de ter uma pessoa por ser apenas evangélico, pastor”. Apesar de não garantir o apoio, o nome do Pastor Everaldo ainda não foi descartado.