Após endereços temporários, Instituto de Arte Contemporânea ganha sede própria

Terminou o périplo da marchande Raquel Arnaud pelos bairros de São Paulo em busca de um lugar para manter viva a memória de alguns dos maiores criadores brasileiros. A partir do dia 14, seu Instituto de Arte Contemporânea (IAC), que surgiu em 1997 para preservar dois acervos confiados a ela, os de Sergio Camargo e Willys de Castro, passa finalmente a ter sede própria, um belo prédio de quatro andares e 900 m² na confluência das avenidas Doutor Arnaldo e Paulista. O instituto vem integrar o circuito cultural da região (ao lado do IMS, do Itaú Cultural e do Masp, entre outras instituições). Comemorando a abertura da sede definitiva do IAC, os curadores Marilúcia Bottallo e Ricardo Resende organizaram uma exposição, Luzes da Memória, com projetos de artistas cujos arquivos foram recentemente incorporados ao instituto: Antonio Dias, Carmela Gross, Ivan Serpa, Jorge Wilheim e Rubem Ludolf.

Da lista, Wilheim (1928-2005) é o único arquiteto, mas ele pode, com justiça, figurar entre artistas, considerando o legado que deixou para a cidade: prédios como o do clube A Hebraica justificam essa inclusão. Como homem público, Wilheim foi peça importante no processo de redemocratização do País, além de ter criado o Procon e o passe do trabalhador (hoje, vale-transporte). Seu arquivo foi igualmente confiado ao IAC, cujo acervo conta com 42 mil documentos organizados, catalogados e digitalizados de 13 artistas: além dos citados anteriormente figuram os escultores Amilcar de Castro, Iole de Freitas, Sergio Camargo, Sérvulo Esmeraldo e Willys de Castro e os pintores Hermelindo Fiaminghi, Lothar Charoux e Luiz Sacillotto.

A nova sede do IAC, reformada com recursos da marchande Raquel Arnaud, fundadora e presidente da instituição, foi cedida por ela ao instituto em contrato de comodato de 30 anos. Era quase uma ruína urbana que o arquiteto Felippe Crescenti transformou num prédio funcional com vista frontal para a Avenida Doutor Arnaldo e fundos para o Pacaembu (um panorama cinematográfico). Na aquisição do prédio, Raquel gastou um pouco menos (R$ 4 milhões) do que ela aplicou na reforma do prédio que o instituto ocupou na Rua Maria Antonia entre 2006 e 2011 (R$ 5 milhões), imponente sala de exposições que foi retomada pela Universidade de São Paulo (USP) quando a parceria institucional teve um fim desastroso – o IAC foi despejado e teve de se mudar, em 2011 mesmo, para a Vila Mariana, onde funcionou até recentemente no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

Raquel não gosta de lembrar do episódio Maria Antonia. Esteve ainda uma vez depois do despejo no prédio da famosa rua. Foi ao Tusp e deu uma volta pelo pátio interno, contemplando de longe o prédio que foi sede do IAC. "Saí de lá muito triste", lembra. Mas fala com orgulho das duas décadas do instituto, que serão comemoradas com um livro a ser lançado no dia da inauguração do novo prédio, Encontros Fundamentais – IAC 20 Anos, publicado em parceria com a editora Ubu e projeto gráfico de Elaine Ramos. Concebida por Jacopo Crivelli Visconti (curador desta edição da Bienal de São Paulo), a obra traz textos de diversos autores.

Para a exposição inaugural do IAC, Luzes da Memória, os curadores da mostra conseguiram um exemplar raro de uma revista política desenhada e concebida por Antonio Dias nos anos 1970. De Ivan Serpa (1923-1973), o IAC incorporou ao seu acervo documentos importantes como uma histórica entrevista feita por Lucia Serpa, viúva do artista, com a doutora Nise da Silveira, em 1986, na qual a médica, pioneira no estudo da arte de doentes mentais, comenta a Série Negra de Ivan, mentor de Oiticica e tantos outros artistas. De Rubem Ludolf (1932-2010), cuja obra começa a ser revalorizada, o IAC vai mostrar vários estudos para pintura dos anos 1970 e serigrafias feitas em seu último período. Iole de Freitas fez especialmente para a mostra uma escultura de aço inox com pintura artesanal na qual vai projetar filmes dos anos 1970.

Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) será lembrado por uma instalação (Lente). Jorge Wilheim, por uma animação em vídeo que mostra seu projeto (nunca realizado) de um boulevard na Rua Augusta. Finalmente Carmela Gross vai pintar com esmalte sintético ouro todas as escadas do novo prédio do IAC. Cor que, na tradição da pintura, está associada à perenidade, ao incorruptível.

<b>Serviço</b>

LUZES DA MEMÓRIA
INSTITUTO DE ARTE CONTEMPORÂNEA
AV. DR. ARNALDO, 126, TEL. 3129-4898.
3ª A DOM., 10H/18H. NÚCLEO DE PESQUISA, 3ª A 6ª, 10H/17H. ENTRADA GRÁTIS. ABRE DIA 6ª (14), 11H. ATÉ 14/6

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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