O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira que ontem “não tinha condições de falar” com a imprensa sobre a morte do ex-governador e candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos. “Todos vocês sabem que a minha relação com o Eduardo Campos extrapolava a política, nós éramos mais do que dois políticos amigos, nós éramos dois companheiros”, disse Lula, que convocou uma coletiva para registrar seus sentimentos em relação à tragédia que vitimou Campos. “Eu acho que nenhum ser humano está preparado para receber a notícia que ontem eu recebi da presidente Dilma (Rousseff)”, disse.
Lula destacou que teve o prazer de conhecer Campos ainda muito jovem por conta de sua relação com o seu avô Miguel Arraes. “Tive o prazer de conhecer (Campos) ainda muito menino, o prazer de ter afinidade ideológica com o seu avó e tive a oportunidade de conviver com a sua mãe, a sua mulher e seus filhos”, disse.
O ex-presidente afirmou que antes de fazer qualquer declaração queria conversar com a família do ex-governador. “Ontem eu falei com a mãe do Eduardo Campos (Ana Arraes). Hoje eu falei com a Renata (esposa) para dar um beijo nas crianças, eu sei o que ela está passando, sei o que as crianças estão sentindo”, disse.
Lula destacou que o Brasil perdeu uma importante figura política. “O Brasil não merecia isso. O Eduardo Campos era uma figura extremamente promissora. O Brasil perdeu um político excepcional”, afirmou. “Nós só temos que guardar dele lembranças de um homem merecedor de tudo que ele conquistou e um homem que poderia conquistar muito mais.”
Segundo Lula, muitas vezes “é fácil a gente falar das pessoas quando morrem porque parece que todo mundo fica bom”. “Mas o Eduardo era excepcional”, reforçou, visivelmente emocionado.
O ex-presidente disse ainda que sempre que conversava com Campos fazia questão de ressaltar que nenhuma divergência no campo político seria capaz de “arranhar a relação de amizades que nós construímos”. “(Eu dizia) Por mais que a gente possa em qualquer momento ter divergência, nossa relação está consolidada”, lembrou. “Eu digo sempre: nem todo irmão é um grande companheiro, mais todo companheiro é um grande irmão”, afirmou Lula.
Lula disse que está esperando o resultado do IML para ir a Pernambuco participar do enterro de Campos e “prestar as últimas homenagens àquele companheiro que jamais poderia ter morrido, muito menos da forma que ele morreu”, afirmou.
Ciumeira
O ex-presidente destacou que a forte ligação que mantinha com Campos chegou a gerar inclusive ciúmes em alguns petistas. “Eu lembro até de uma certa ciumeira que existia dentro do PT pela minha relação com Eduardo quando ele era governador de Pernambuco”, disse. “Alguns amigos diziam que eu fazia mais coisa para Pernambuco do que para outros Estados, o que não era verdade. Era que o Eduardo tinha competência, apresentava projetos”, disse.
Lula afirmou ainda que Campos era uma pessoa “alegre” e lembrou sua habilidade como contador de histórias. “Ele era um contador de causos extraordinário, era gratificante passar algumas horas na casa dele jantando com ele, com a família, com o Suassuna que era outro contador de causo extraordinário”, disse, referindo-se a Ariano Suassuna, tio da esposa de Campos, que faleceu no mês passado.
“Perdemos o Suassuna, agora perdemos o Eduardo, já tínhamos perdido o companheiro Marcelo Déda, que morreu também muito jovem”, lamentou. “Eu sinceramente acho que não há nada que a gente possa fazer para prestar uma homenagem ao Eduardo. Mas as recordações que eu tenho dele são as melhores possíveis. Porque a relação era muito forte e extrapolava a relação política”, reforçou. Lula disse que a última vez que conversou com Campos foi quando nasceu seu filho caçula, Miguel, no início do ano. “A última vez que conversei foi para dar parabéns pelo nascimento do seu filhinho caçula e não conversei mais com ele”, lamentou.