Na última semana de julho e na primeira de agosto, dezenas de caminhões saíram de um endereço na Consolação lotados de pedaços de concreto. Cada um levava uma parte da tradicional Maternidade São Paulo, a primeira do Estado e da capital. Mais de cem anos depois de sua fundação, ela foi demolida. No terreno de 15 mil m², só resta uma pequena parte das ruínas.
O hospital foi fechado em 2003 por causa de uma crise financeira. Três anos depois, o imóvel foi arrematado pela Casablanc Representações e Participações Ltda, ligada ao Banco Safra, por R$ 18,5 milhões em um leilão. As dívidas trabalhistas da Maternidade somavam, na época, pouco mais de R$ 17,1 milhões. O acervo do hospital, com fichas clínicas e obras de arte, está no Arquivo Público de São Paulo, mas só pode ser consultado com ordem judicial. A instituição informou que ainda não sabe o que será feito no terreno.
“A maternidade chegou a fazer 1.000 partos por mês, nos anos 80. Era muito grande”, conta Luiz Antonio Pardo, diretor clínico e técnico entre 1997 e 1999. “A Maternidade era uma entidade beneficente, como as Santas Casas. O problema delas (hoje) é o mesmo da São Paulo.”
Há cerca de quinze dias, a crise financeira atingiu também a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, o maior hospital filantrópico do País. O hospital suspendeu por trinta horas o atendimento no pronto-socorro por falta de materiais. Governos federal e estadual passaram a trocar acusações sobre a responsabilidade do problema. Apesar da crise, o médico acredita que a Santa Casa sairá dos problemas e não terá o mesmo fim que a maternidade.
A crise da Maternidade São Paulo, que começou na década de 70, teve seu ápice no fim dos anos 90. Na tentativa de salvar o prédio de dez andares da Rua Frei Caneca, próximo à Avenida Paulista, zona nobre da cidade, a administração chegou a fazer uma parceria com a Unimed em 1998. O prédio passou a funcionar também como hospital, com atendimento de pronto-socorro.
“Não é como um bar, um restaurante que fecha, vem uma nova direção e habilita. Hospital quando fecha, não abre mais. É que nem uma indústria antiga, mais fácil construir uma nova”, afirma o ex-diretor.
A entidade foi criada em 1894 pelo médico Braulio Gomes como uma instituição privada, mas que atendia gratuitamente mulheres carentes que não tinham onde dar à luz. Depois de assistir ao parto de uma indigente em uma rua próxima a sua casa, ele deu início a uma arrecadação de fundos para a organização de uma Associação de Proteção e Assistência à Mulher Pobre, primeiro nome da Maternidade São Paulo.
Lá, nasceram cerca de 1,2 milhão de paulistanos, como o piloto Ayrton Senna, o político Paulo Maluf e as atrizes Fernanda Torres e Suzana Vieira. No local, funcionou também a primeira Escola de Obstetrícia da Universidade de São Paulo (USP).