Enquanto o debate sobre a legalização da maconha aparece na campanha eleitoral de presidente da República, refletindo mudanças legais nos Estados Unidos e no Uruguai, uma força-tarefa policial internacional arrasa roças da droga no Paraguai, o principal fornecedor para o Brasil, e caça cerca de 40 brasileiros de facções criminosas, como Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). Neste ano, pelo menos 1.800 hectares de plantações de maconha e 270 toneladas da droga pronta para o consumo foram destruídos e 13 cidadãos brasileiros capturados em solo paraguaio.
As informações são de um documento do governo paraguaio, obtido pelo Estado, com balanço de 24 operações de um grupo especial de agentes criado por Brasil e Paraguai, com apoio dos Estados Unidos, para combater o narcotráfico na fronteira dos Estados do Mato Grosso e Paraná, no Brasil, e Amambay, Canindeyú, Caaguazú e Alto Paraná, no Paraguai. O alvo principal é a maconha.
“Lamentavelmente, o Paraguai é um dos principais produtores de maconha do mundo e o principal fornecedor da droga para o Brasil”, afirmou na semana passada Luis Alberto Rojas, ministro da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai. Ele é encarregado de comandar a força especial que localiza lavouras, destrói as plantações e manda traficantes brasileiros de volta pela Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu.
“Sabe-se que 80% da maconha plantada no Paraguai vai diretamente para o Brasil”, declarou o chefe da Senad.
Nos últimos 5 anos, 132 brasileiros foram presos na região de fronteira entre os dois países, acusados de ligação com a produção e a distribuição da erva, em operações conjuntas da Senad com a Polícia Federal do Brasil, em parceria com a Drug Enforcement Administration (DEA), órgão de repressão às drogas do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Destes, 35 foram expulsos, devolvidos às autoridades brasileiras.
Operações
O documento revela que 35 dos traficantes procurados no Paraguai são ligados ao PCC, organização criminosa que atua nos presídios de São Paulo. Os outros 20 são do CV, facção do Rio. O relatório foi apresentado em reunião entre os comandos operacionais da força-tarefa do Brasil e Paraguai, em Assunção, no começo deste mês.
É um relato das ações de repressão aos traficantes, entre elas as Operações Nova Aliança, executadas durante os anos de 2012 e 2013. Os dados de 2014 vão até o último dia 11, véspera do encontro em Assunção.
“Temos por aqui ainda outros membros de quadrilhas menores do Brasil”, explicou Rojas. De acordo com as investigações do grupo de inteligência do convênio Senad/PF, líderes das organizações criminosas brasileiras Terceiro Comando Puro (TCP) e Primeiro Grupo Catarinense (PGC) também são procurados no Paraguai.
Segundo Rojas, o governo nacional aperta o cerco contra o narcotráfico porque o país é considerado “um problema” na região. “Meu país cometeu vários erros nesse tema. Não investia um centavo no combate, mas agora há uma decisão política de enfrentamento do tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, contrabando e falsificação”, afirmou o chefe da Senad.
O chefe dos caçadores de maconha argumenta que o mercado da droga no Brasil aumentou a demanda por áreas para plantio do lado paraguaio nos últimos anos. Atualmente, explica, quadrilhas cruzam a fronteira para plantar dois tipos de droga. “A marijuana grande, que permite duas safras anuais, e um novo tipo, mais baixo, que rende três colheitas por ano”, disse. Mostrando mapas onde há cultivo da maconha nos municípios de Capitão Bado, Pedro Juan Caballero, Ciudad del Este e Salto del Guairá, ele afirmou que a guerra aos traficantes tem apoio também do DEA americano. “A ordem é expulsar os criminosos que vieram para o Paraguai cultivar marijuana para o Brasil”, afirmou.
Um dos relatórios, com resultados de oito das operações Nova Aliança, mostra que de 2012 a março deste ano foram destruídos cerca de 29 milhões de pés de maconha em 2.878 hectares. O custo da força-tarefa foi de US$ 452,9 mil, US$ 261,9 mil pagos pela PF. O dano provocado no narcotráfico seria de US$ 264,8 milhões no período. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.