As chuvas fortes que atingem a região da Baixada Santista desde a tarde de segunda-feira, 2, já provocaram ao menos 12 mortes nas cidades de Guarujá, Santos e São Vicente. Quarenta e seis pessoas estão desaparecidas. O balanço foi divulgado por volta de 13h20, em conjunto, pela Defesa Civil e pelos bombeiros.
O principal local com registro de mortes até o momento é o Guarujá, com 11 óbitos. A cidade tem 32 desaparecidos. Um dos locais mais atingidos é o Morro do Macaco Molhado e no Jardim Centenário. A prefeitura da cidade decretou estado de emergência. Pelo menos duzentas pessoas estão desabrigadas no município. Na manhã desta terça, o prefeito Valter Suman (PSB) sobrevoou as áreas mais atingidas junto com o coordenador da Defesa Civil do Estado, coronel Walter Niakas Júnior.
Em entrevista à Rádio Eldorado, o coronel Endel Ricardo Pereira, diretor de operações da Defesa Civil estadual, confirmou que entre as vítimas estão dois agentes do Corpo de Bombeiros. Eles participavam de uma operação de resgate no Morro do Macaco Molhado, no Guarujá, e foram atingidos por um novo deslizamento, que deixou um deles morto, enquanto o outro continua soterrado.
O ajudante de pedreiro Luciano Martins de Oliveira, conhecido como Aranha, de 59 anos, estava dormindo em casa no momento do deslizamento, por volta da 1h30, no Morro do Macaco Molhado. Ele chegou a ficar soterrado até o umbigo, sendo ajudado a sair por vizinhos e bombeiros. "Achei que iria perder metade do corpo. Me ajudaram a sair pela janela"
No início da tarde, mesmo com a chuva, ele estava nas proximidades da casa, preocupado em conseguir os documentos, mas a casa, de madeira, em que vivia há 6 anos, desmoronou. "Não tenho lugar para ir. Perdi tudo, estou só com a roupa do corpo mesmo." Luciano não quer mais ficar no Morro do Macaco Molhado. "Dá medo, essa chuva não para", diz. "Mas o importante é estar vivo", acrescenta.
"Veio aquela água, aquela lama correndo um monte, parecia aquilo que teve em Minas. Como era o nome mesmo daquele lugar?", disse, referindo-se a Brumadinho, onde o rompimento de uma barragem deixou ao menos 270 mortos. Como ainda chove na região, o Corpo de Bombeiros pediu para moradores e jornalistas se afastarem do local de um dos desmoronamentos. Nas ruas da parte mais baixa, a população usa enxadas, carrinhos de mão e outros equipamentos para retirar a lama avermelhada.
Ainda conforme balanço divulgado no começo da tarde, Santos tem uma morte e 11 desaparecidos. São Vicente tem três desaparecidos. Em Santos, a prefeitura decretou estado de atenção. A vítima, uma mulher de 30 anos, morreu soterrada em um deslizamento no Morro do Tetéu. O Corpo de Bombeiros resgatou com uma criança atingida por deslizamento no Morro do Fontana. Ela foi levada para a Santa Casa e continuava internada em estado estável.
Em Santos, os deslizamentos atingiram ainda os morros Santa Maria, São Bento, Vila Progresso e Monte Serrat – muitos moradores abandonaram as casas. A prefeitura distribuiu lonas plásticas para moradores de imóveis afetados. A Secretaria de Educação suspendeu as aulas em unidades de ensino devido às dificuldades de acesso. A escola Terezinha de Jesus Pimentel, no Morro de São Bento, está funcionando como ponto de acolhida para os desabrigados.
Dados do Núcleo de Gerenciamento de Emergência da Defesa Civil do Estado indicam que o acumulado nas últimas 12 horas de chuvas foi de 282 mm no Guarujá, 218 mm em Santos, 170 mm em Praia Grande, 169 mm em São Vicente, 160 mm em Mongaguá , 132 mm em Mongaguá, enquanto o acumulado foi de 110 mm Itanhaém e Bertioga.
Foram registradas ao menos quatro quedas de barreiras ao longo da Rodovia Doutor Manuel Hipólito Rego, em dois pontos da SP 055 (Rio-Santos) e outros dois da SP 061 (Guarujá-Bertioga), de acordo com informações do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). O VLT da Baixada Santista também amanheceu paralisado nesta manhã, após deslizamento de terra próximo ao túnel que faz a ligação entre Santos e São Vicente.
<b>Sistema Anchieta Imigrantes e Cônego Domenico Rangoni</b>
Por volta das 11h30, o motorista também enfrentava congestionamento na Rodovia Anchieta, no sentido do litoral, do km 33 ao 40. Também havia tráfego lento do km 64 ao 65. Segundo a Ecovias, o motivo era apenas o excesso de veículos. Mais cedo, queda de barreira – provocada pelas fortes chuvas – interditou a via. Ainda havia congestionamento na Rodovia Cônego Domenico Rangoni, no sentido do litoral norte, do km 263 ao 268, região que também foi interditada mais cedo por queda de barreira. Em razão de neblina, a Interligação Planalto, no sentido da Imigrantes, também permanecia interditada entre o km 1 e 8, no fim da manhã desta terça-feira.
Em sua conta oficial no Twitter, o governador João Doria prestou sua solidariedade às vítimas do temporal. Doria chegou no final da manhã a Santos para uma reunião de emergência com os prefeitos das cidades atingidas pelas chuvas. Na prefeitura de Santos, além do prefeito da cidade, Paulo Barbosa (PSDB), Doria vai conversar também com os prefeitos de Guarujá e São Vicente. Os gestores apresentarão ao governador um balanço da tragédia causada pelas chuvas na região.
A previsão para esta terça-feira, 3, é de chuva moderada a forte ao longo do dia em todo o litoral paulista, incluindo a região da Baixada Santista, e deve se estender até a madrugada de quarta. De acordo com a equipe da Defesa Civil, o temporal foi causado devido à formação de uma área de baixa pressão no litoral de São Paulo e a circulação dos ventos nos altos níveis da atmosfera.