A amplitude e ramificações políticas contidas nos depoimentos do ex-diretor Paulo Roberto Costa no âmbito da delação premiada desencadearam no governo e entre integrantes da CPI mista da Petrobras uma operação de “contenção de danos”. Parte da base aliada ao governo tentou dissuadir nesta quarta-feira, 10, o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), de pedir ao Supremo Tribunal Federal cópia das declarações de Costa – que cumpre prisão preventiva no Paraná – no acordo firmado com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal em troca de uma eventual redução de pena ou até mesmo do perdão judicial.
Nos depoimentos que já prestou, Costa citou três dezenas de parlamentares – entre deputados e senadores -, além de governadores, ex-governadores e um ministro como beneficiários de um suposto esquema de propinas em contratos da Petrobras. Os detalhes das oitivas, porém, ainda não são conhecidos.
Em reunião da comissão a portas fechadas, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), argumentou que a lei do crime organizado impede a divulgação dos depoimentos de delação. O líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), também reforçou essa posição contrária, segundo relatos de presentes, acompanhado do relator da CPI, Marco Maia (PT-RS).
Esse grupo também tentou adiar o novo depoimento do ex-diretor, que foi agendado ontem para a próxima quarta-feira, dia 17. O argumento é que Costa poderia se recusar a responder às perguntas por causa da delação premiada. A oposição não aceitou acordo e o senador Vital do Rêgo manteve o depoimento marcado e seu pedido ao Supremo. Sem o apoio do PT para sua campanha ao governo da Paraíba, Vital tem sido um braço da oposição quando o assunto é incômodo ao Planalto.
Na reunião, fechada à imprensa, o senador Gim Argello (PTB-DF) teria afirmado que o ex-diretor delatou aos policiais corrupção em contratos da Petrobras na África. O senador, contudo, não deu mais detalhes. No seu mandato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou a empresa a investir em países africanos.
Lula tinha canal direto com Costa quando era presidente. Ele se referia ao executivo como “Paulinho” e, segundo ex-dirigentes da Petrobras, tratava diretamente com o ex-diretor sobre investimentos da estatal.
Segundo fontes, na Costa Global, empresa do ex-diretor, há um macacão emoldurado na parede com uma dedicatória de Lula no lado esquerdo do uniforme dos funcionários da empresa. Conforme a revista Veja, na delação premiada, Costa citou o ex-presidente Lula, mas não se sabe em que contexto.
Foram citados, segundo a revista, também o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão; o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN); o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e a atual governadora do Maranhão, Roseana Sarney; o ex-governador de Pernambuco e ex-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo no dia 13 de agosto; o ex-ministro da Cidades Mário Negromonte (PP-BA) e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, além de outros parlamentares do PT e aliados. O portal estadao.com.br já havia revelado na sexta-feira passada que o ex-diretor fez referência ainda ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Na reunião reservada, o presidente da CPI afirmou que será necessário “refundar a República” ao se referir à delação de Costa.
Humberto Costa, em seguida, sugeriu o clima de apreensão entre empresas citadas por envolvimento com o esquema ao dizer que vários diretores estariam a caminho do aeroporto. O petista confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que fez o comentário. Sobre sua posição em relação ao novo depoimento do ex-diretor, disse: “Eu não fui contra. Só ponderei que acho que não vai acontecer é nada”.
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Na linha de frente do governo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que pediria pessoalmente ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acesso à delação premiada feita por Costa.
Cardozo disse que ainda não sabe quando poderá ter acesso às informações prestadas pelo ex-diretor da Petrobras. “Não posso pressionar o procurador da República. Ele tem todo o tempo que achar necessário, mas ele disse que responderá de forma célere”, ressaltou, ao deixar a posse de Ricardo Lewandowski como presidente do Supremo.
Segundo ele, os documentos poderão possibilitar que sejam tomadas “medidas corretivas” pelo Executivo. “É tudo muito novo. É a primeira vez que nós temos uma delação premiada nessas características de foro privilegiado, que sai para vir para o Supremo”, afirmou. (Colaboraram Beatriz Bulla e Mariângela Gallucci) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.