Duas semanas depois de o governo federal anunciar que o desmatamento na Amazônia em 2014 foi o segundo menor da história, um novo levantamento trouxe um indicativo de que a taxa oficial pode não se portar tão bem neste ano.
O número de alertas de alteração da cobertura vegetal na Amazônia entre agosto do ano passado e julho deste ano subiu 68,7% na comparação com o período de agosto de 2013 a julho de 2014, de acordo com dados divulgados nessa segunda, 31, pelo Deter, monitoramento em tempo real do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O levantamento registrou corte raso e degradação em uma área de 5.121,92 km² de floresta no ano que passou, contra 3.035,93 km² no ano anterior. É o número mais alto dos últimos seis anos e equivale a 3,5 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Apesar de ágil para observar em tempo real o que está acontecendo e enviar alertas para a fiscalização, o Deter é impreciso. Desse modo, ele não serve para fornecer o número oficial de perda da cobertura florestal, mas dá uma boa pista de como ele pode se comportar.
O valor final da perda é fornecido por outro sistema do Inpe, o Prodes, e costuma ser divulgado em novembro, sendo confirmado no meio do ano seguinte.
É esse o número oficial do desmatamento e foi o que a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, anunciou há duas semanas. O último dado do Prodes apontou que o desmatamento de agosto de 2013 a julho de 2014 foi o segundo menor da história – 5.012 km².
Se a tendência do Deter se confirmar, o Prodes poderá também trazer um aumento. Somente duas vezes desde que o monitoramento começou a ser feito Deter e Prodes seguiram trajetórias diferentes. Uma delas foi justamente no ano passado. Os alertas mostravam alta, mas o número final foi de baixa.
Perfil
Para Luciano Evaristo, diretor de proteção ambiental do Ibama, uma mudança no perfil do desmatamento é a principal explicação para essa diferença. “O desmatador é esperto e aprendeu a evitar o satélite. Sabe que se cortar acima de 25 hectares vai perder o lucro do seu crime. Então adotou novas técnicas, como o corte multipontos, que vai comendo a floresta por baixo das copas.”
Além disso, explica, o Deter tem uma resolução muito baixa, de 250 metros, o que dificulta, por exemplo, diferenciar corte raso (que configura a perda total da floresta) de degradação. Ele diz que o Ibama tem buscado usar imagens em alta resolução de satélites que enxergam cortes menores que 25 hectares, mas são mais lentos, só rodam de 16 em 16 dias. Assim, afirma, o Ibama tem conseguido agir antes que o problema se torne maior. Ele opina que a taxa oficial deve ser parecida com o ano passado.
De acordo com Evaristo, o Inpe deve lançar em breve o que ele chamou de Deter-B, um satélite com resolução de 56 metros, rodando a cada cinco dias, para conseguir lidar com esse desmatamento multipontos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.