Quase três meses após assumir o comando da Santa Casa de São Paulo, a nova gestão do complexo finalizou um plano de reestruturação que prevê o corte de 10% da folha de pagamento, hoje na casa dos R$ 60 milhões. Eleito em junho para o cargo de provedor, o médico José Luiz Setúbal informa que as demissões serão necessárias para que a entidade continue em funcionamento diante da dívida de quase R$ 800 milhões deixada pela antiga administração.
A direção ainda não definiu quantos dos 11 mil funcionários da instituição serão dispensados. Na segunda-feira, 31, os cerca de 40 chefes de departamento da Santa Casa foram convocados para uma reunião com a provedoria e informados sobre a necessidade do corte. Cada gestor terá de apresentar uma sugestão de redução de gastos para o provedor nos próximos 15 dias. A quantidade de demitidos deverá ser definida até novembro.
“Colocamos uma meta, mas ela não é linear. Sabemos que alguns departamentos não vão conseguir atingir esse índice e outros podem superá-lo. Não posso impor uma decisão porque são os gestores que conhecem melhor a realidade do departamento”, disse Setúbal.
De acordo com o provedor, a entidade tem hoje funcionários ociosos por causa da redução da estrutura da Santa Casa. Antes do início da crise financeira, no ano passado, a Santa Casa administrava 39 unidades de saúde. Hoje, ela cuida de apenas sete.
“Estamos pagando para alguns funcionários ficarem em casa. Temos de readequar o RH à nova estrutura”, diz. Setúbal afirma que a área que deverá ser mais atingida é a administrativa. “O nosso custo com o pessoal administrativo é de 33%, quando deveria ser de 10% a 12%”, afirma o provedor.
Sindicato
Diretor do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde de São Paulo (SinSaudeSP), que responde pelos funcionários do setor administrativo, Edgar Veloso afirma que a categoria fez propostas à provedoria para minimizar os efeitos das demissões. “O sindicato sempre será contra a dispensa de funcionários, mas, pelo que a provedoria nos apresentou, é uma situação inevitável. Muitos trabalhadores vindos de unidades fechadas foram absorvidos pelo hospital central, sem ter função definida”, diz. Segundo Veloso, entre as propostas feitas pelo SinSaudeSP à direção da Santa Casa está a adoção de um programa de demissão voluntária (PDV).
A Associação Médica da Santa Casa disse que ainda não tem uma posição sobre as demissões. A entidade tem reunião agendada para o próximo dia 9 com o provedor para debater o plano de reestruturação. A reportagem não conseguiu contato com o Sindicato dos Médicos de São Paulo na noite de ontem.
Outras medidas
Setúbal explica que o corte na folha de pagamento não é a única medida definida no plano de reestruturação para diminuir despesas. “Precisamos reduzir os gastos em R$ 10 milhões por mês. Serão R$ 6 milhões na folha de pagamento e outros R$ 4 milhões com medidas como revisão de contratos e controle maior de compras”, relata. Apenas com a mudança do contrato da empresa de segurança, o complexo passou a economizar R$ 1 milhão por mês, de acordo com o provedor.
A Santa Casa iniciou ainda a implementação de um sistema informatizado de compras e controle de gastos. Até o primeiro semestre do ano que vem, todo o complexo estará informatizado, segundo a direção. A entidade também está em um processo de renegociação das suas dívidas com os bancos e fornecedores.
Superintendente
Como parte da mudança na gestão, Setúbal decidiu substituir o superintendente da entidade. O médico Irineu Massaia, que ocupava o cargo desde setembro do ano passado, foi dispensado em julho e retornou para a função de chefe de um dos departamentos médicos. O nome do novo superintendente deverá ser anunciado nas próximas semanas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.