A Prefeitura e empresas da capital preparam um programa de restrição de carga e descarga de mercadorias durante o dia. Previsto para estrear em duas semanas, o Projeto-Piloto de Entregas Noturnas prevê que 18 companhias que atuam entre a Avenida Doutor Arnaldo e a Rua Heitor Penteado, na zona oeste, e a Marginal do Tietê, prestem seus serviços apenas entre 21 e 5 horas. Moradores da região já temem impacto no sossego noturno.
A ideia é fazer o projeto-piloto por 30 dias. Nesse período, as empresas vão mudar suas operações e a gestão Fernando Haddad (PT) vai coordenar agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e das subprefeituras, dando o apoio logístico, como poda de árvores, para melhorar a circulação dos caminhões, e troca da iluminação pública, para diminuir a insegurança. A Polícia Militar e o Programa de Silêncio Urbano (Psiu) também estão envolvidos no programa.
O projeto-piloto é uma demanda do Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo (Setcesp) e do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV). Eles reuniram as empresas voluntárias, que somam 22 lojas de rua e 14 em shoppings.
“Batemos muito na porta do secretário (Jilmar) Tatto para viabilizar a entrega noturna. Ela é para grandes home centers, shoppings, supermercados”, diz o presidente do Setcesp, Manoel Souza Lima Junior. “Não é para a lojinha da Rua Augusta, que nem abre durante a noite.”
“Nos grandes locais, o caminhão entra e operamos, com segurança e eficiência”, explica Lima Junior. “Estamos falando de negócios. Tem de ser bom para todos: para a cidade, que vai ganhar um trânsito com menos caminhões, e para o comércio, que terá ganhos operacionais.”
Fiscalização
Por ser projeto voluntário, não há previsão de multas. A CET, no entanto, espalhará faixas orientando motoristas sobre hábitos a serem evitados, como buzinar ou acelerar o motor dos caminhões desnecessariamente.
Moradores de bairros incluídos no quadrilátero do projeto-piloto já veem com preocupação a medida, que implica caminhões entrando nos bairros durante a madrugada. “Primeiro, tenho a dizer que não fomos consultados e não sabíamos da proposta. Depois, é preocupante pensar em caminhões fazendo barulho no horário de descanso da população. Pode ser ruim”, afirma Rodrigo Mauro, membro da Associação Viva Pacaembu, na zona oeste.
“Nossa preocupação é quando o caminhão precisa dar a ré”, diz o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, referindo-se ao aviso sonoro da marcha. “Isso, e as gritarias, conversas muito altas.” No entanto, a Prefeitura, diz Tatto, não espera por reações negativas dos moradores da região.
“O que vamos fazer é ocupar um espaço de circulação muito saturado ao longo do dia no horário em que ele é ocioso”, explica Tatto. “Uma quantidade de caminhões deixará de circular durante o dia para operar à noite, com a expectativa de melhoria na circulação.”
Depois dos 30 dias iniciais, técnicos de logística da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) farão análises com os participantes. Em dezembro, um segundo projeto-piloto será implementado, em área maior. Em fevereiro, haverá nova rodada, em perímetro ainda maior. Depois, a proposta final será apresentada.
União
Uma das redes participantes é o Grupo Pão de Açúcar. O diretor encarregado pelo projeto na empresa, Paulo Pompilio, diz que “não são só as pessoas que sofrem com o trânsito. Nós também estamos presos nas metrópoles, tentando movimentar nossas mercadorias”, explica. “Só vamos encontrar soluções se trabalharmos juntos.”
Pompilio diz que alguns tipos de produtos poderão precisar de entregas diurnas – restaurantes, por exemplo. No entanto, ele afirma que outros setores podem aproveitar melhor as restrições. “Se a empresa já tiver um funcionamento noturno, será melhor. O que é preciso é encontrar um equilíbrio entre custo de operação e eficiência na movimentação das mercadorias”, diz.