A continuidade na aposta de cortes de juros por bancos centrais como o dos Estados Unidos, Inglaterra e Japão segue no radar dos investidores da Bolsa brasileira, que pode ter seu terceiro dia de recuperação. O afrouxamento monetário esperado é uma resposta aos impactos da epidemia de coronavírus no mundo, que deve contaminar o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020. Na Austrália e na Malásia, as taxas já foram cortadas nesta terça, no sentido de estimular suas economias.
Na teleconferência dos países do G-7 esta manhã, no entanto, não houve anúncio de ações coordenadas para conter os impactos da epidemia de coronavírus no globo. Porém, os membros dos sete países mais ricos do mundo disseram estar monitorando a disseminação do vírus e seu impacto na economia e mercados. "Reafirmamos compromisso de usar todas as ferramentas adequadas para garantir crescimento", disse estar pronto para adotar medidas fiscais.
Em Nova York, os índices futuros sobem, mas em meio a muita instabilidade. No Brasil, a B3 segue claudicante. Às 11h02, o Ibovespa cedia 0,06%, aos 106.558,55 pontos.
Em meio a esse quadro de dúvidas quanto ao desaquecimento mundial, crescem as estimativas de corte na taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) no próximo dia 18, pelo BC canadense, amanhã, e pelo BC inglês no fim do mês. Além disso, a política interna e externa é monitorada de perto de mercado.
A expectativa pela Super Terça nos Estados Unidos e pela votação do Orçamento Impositivo, no Brasil, às 14 horas (de Brasília), gera mais incerteza. "Os mercados externos estão repercutindo a possibilidade de ação coordenada entre vários bancos centrais para conter o coronavírus, mas a política pode causar instabilidade nos mercados", estima Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Ideias de Investimentos. "Com essas questões políticas, fica difícil definir uma tendência", acrescenta.
Um operador reconhece que medidas de estímulo são bem-vindas neste momento de espalhamento do coronavírus fora da China, para tentar amainar os impactos. No entanto, acredita que o impacto tende a ser provisório, sem impulsionar fortemente as economias no longo prazo, sobretudo aquelas que estão enfraquecidas, caso do Brasil. "Sem dúvida, são medidas que agradam ao mercado e podem ter efeito positivo nos EUA, cuja economia já está indo bem. Só não sei se terá o mesmo impacto em economias onde a demanda está restrita", observa.
A despeito da redução da aversão ao risco nos mercados esta manhã, o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria Integrada, pondera em nota que a reversão ainda é tênue, tendo em vista a epidemia ainda em curso e os impactos econômicos incertos. A cautela, cita, é ilustrada pelo yield de 10 anos, que apesar de acima das mínimas de ontem segue em nível debilitado.
"Além da expectativa de corte dos juros pelo Federal Reserve neste mês, há sinais de afrouxamento vindos de China, Japão, zona do euro e Reino Unido. Em outro front, laboratórios seguem na corrida em busca de uma vacina ao coronavírus", afirma Campos Neto.
A política interna e externa também deve ficar no radar dos investidores. Nos EUA, o foco também está no cenário eleitoral, com a Super Terça, quando o Partido Democrata norte-americano faz prévias em 14 Estados. O dia será marcado pela disputa por um terço dos 3.979 representantes do partido que escolherão o nome da legenda que concorrerá à Casa Branca em novembro. No Brasil, lembra o economista da Tendências, a melhora externa deve manter a recuperação moderada dos ativos, mas sem tirar as atenções do ambiente político, com a sessão que irá votar os vetos do presidente ao orçamento impositivo.