Filiado ao PSB desde que deixou o PT, em 2005, o deputado federal reeleito José Luiz Stédile não morre de amores pelos tucanos ou pelo programa de Aécio Neves, mas vai trabalhar pela eleição do candidato do PSDB à Presidência da República por disciplina partidária. A decisão torna ainda mais profundas as divergências políticas com o irmão João Pedro Stedile, que usa o sobrenome sem acentuação. João Pedro é líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que é favorável à petista Dilma Rousseff (PT) e chegou a prometer protestos diários diante da Petrobras caso Marina Silva (PSB) fosse eleita, durante um ato político no dia 15 de setembro, no Rio de Janeiro.
“O bonito em uma relação familiar é que não há uma obrigação de pai e irmãos serem filiados ao mesmo partido”, comenta José Luiz, que diz se dar bem com João Pedro. “Ele sabe que não sou homem de direita”, destaca, se colocando como político também de esquerda que escolheu caminho diferente do trilhado pelo irmão.
Na trajetória dos dois irmãos Stédile está a militância, mas por caminhos diferentes. João Pedro, 60 anos, economista pós-graduado no México, optou pela mobilização dos sem-terra pela reforma agrária. José Luiz, 56 anos, metalúrgico formado em Administração Pública pela Universidade de Caxias do Sul, atuou sempre na área urbana, como líder sindical e político. Foi duas vezes prefeito de Cachoeirinha (2001-2008), na região metropolitana de Porto Alegre, fez seu sucessor, Luiz Vicente da Cunha Pires (PSB). É deputado federal desde 2009 e começa a cumprir novo mandato em 2015.
As diferenças políticas ficaram mais evidentes na campanha deste ano. “Quando João Pedro disse que se Marina vencesse eles fariam manifestações diárias para defender a Petrobras, falei que deveriam ter feito para defender a Petrobras agora, porque está sendo destruída”, lembra o deputado federal. “Também lamentei que movimentos sociais tivessem se atrelado a partidos políticos”.
Agora, no segundo turno, enquanto João Pedro espera eleger Dilma, José Luiz vai trabalhar por Aécio, mas com ressalvas. “Vou fazer campanha porque sou homem de partido”, justifica. “Não é mais suportável o índice de corrupção e o aparelhamento do Estado no País, então é um voto contra o PT e não no Aécio”. O deputado federal admite que fazer campanha pelo tucano “não é tarefa fácil” porque vê diferenças programáticas entre o PSDB e o PSB. “Mas no segundo turno só sobraram as opções da neutralidade, que seria uma covardia, apoiar o que aí está e referendar o que está acontecendo ou apoiar o Aécio, que é o que aconteceu”.