O reservatório da usina hidrelétrica de Três Marias, na região central de Minas, pode chegar ao fim do ano com apenas 5% de sua capacidade caso não aumente o índice de chuva na área. Segundo a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), o nível nesta quinta-feira era de 10,4% e o governador do Estado, Fernando Pimentel (PT), afirmou que o uso da água da represa terá que ser “controlado” para que não se esgote a capacidade útil do reservatório.
A usina está instalada no rio São Francisco e, além da geração de energia, a água da represa é usada, por exemplo, para a agropecuária ao longo do leito, inclusive no Jaíba, um dos maiores projetos de irrigação do mundo que funciona no norte de Minas. Ontem, Pimentel sobrevoou o reservatório e constatou que a situação é “grave”. E tende a piorar, já que o departamento meteorológico da Cemig prevê pouca chuva ao longo do ano. “Isso significa que o uso vai ter que ser muito controlado”, avaliou o governador. Em novembro do ano passado, o nível útil da represa já havia chegado a 2,57%, índice mais baixo da história da hidrelétrica, construída em 1962. Desde então, o volume do reservatório aumentou, mas, neste período, o nível mais alto foi 10,59%, registrado no último dia 12.
Para evitar o esvaziamento total da represa no fim do ano passado, apenas duas das seis turbinas estavam funcionando em Três Marias. A usina tem capacidade instalada de geração de 396 megawatts por hora (MW/h), mas hoje, segundo a Cemig apenas uma turbina – que gera até 66 MW/h – está ativa. O presidente da empresa, Mauro Borges, que acompanhou o governador na visita, ressaltou que o “grande foco” no momento é o “abastecimento de água”. Mas, segundo Borges, a possibilidade de um colapso no fornecimento de energia é “praticamente zero” por causa da atuação “extremamente eficiente” e do “forte planejamento nacional” do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). E afirmou que a previsão de o reservatório de Três Marias chegar a 5% não afeta o sistema. “Estamos preparados para poder usar de uma forma absolutamente racional o reservatório e chegar ao nível de 5% dentro de todos os parâmetros de previsibilidade possíveis nesse momento”, disse.
A crise hídrica afeta praticamente todo o Estado e o governo já havia adiantado que, caso o consumo de água não seja reduzido em pelo menos 30%, em no máximo quatro meses haverá racionamento. Mas, de acordo com Pimentel, antes disso já deve ter início a cobrança pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) de uma sobretaxa para quem ultrapassar o consumo médio do ano passado. “Não temos como aumentar a captação e a vazão no sistema de abastecimento no curto prazo. No caso da região metropolitana de Belo Horizonte, estamos com obras que vão ser aceleradas na captação do rio Paraopeba”, disse.
Na quarta-feira (28), o governador se reuniu com a presidente Dilma Rousseff e, segundo Pimentel, recebeu a promessa de ajuda do governo federal para o projeto, orçado em R$ 693 milhões e já iniciado no governo anterior. Porém, a previsão do Executivo mineiro – que ficou de enviar projetos para a União até o fim de fevereiro -, é de que a obra seja concluída apenas em novembro, na estimativa mais otimista. “Até lá, temos de reduzir o consumo. Temos prazo de dois a três meses para a redução fazer efeito. Se não houver (redução), vamos para medidas mais severas como rodízio, racionamento e o que for necessário”, concluiu Pimentel.