A Agência Nacional de Águas (ANA) decidiu prorrogar até 28 de fevereiro a vazão mínima de 140 mil litros por segundo na Estação Elevatória de Santa Cecília, em Barra do Piraí (RJ), onde ocorre a transposição de dois terços das águas do rio Paraíba do Sul para o rio Guandu, que abastece cerca de 9 milhões de pessoas na região metropolitana do Rio.
Mesmo assim, a vazão poderá ser alterada em reunião prevista para esta semana no Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). “Vamos fazer uma avaliação com simulações e dados levantados nos últimos dias. A princípio, deverá ser proposta uma pequena redução da vazão para preservar os estoques de água. Estamos hoje 25% abaixo do pior cenário já registrado, em janeiro de 1953”, disse o diretor executivo do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Guandu, Julio Cesar Oliveira Antunes.
A resolução n.º 86 da ANA foi publicada ontem no Diário Oficial. Três dias antes, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) declarara que uma eventual redução para 110 mil litros por segundo, cogitada pela ANA, representava “risco para o abastecimento”. A necessidade de reduzir a vazão para preservar estoques foi apontada por técnicos em reunião com Pezão e a presidente Dilma Rousseff na quarta-feira passada, disse o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa.
Em nota, a ANA informou que vem autorizando menos vazão em Santa Cecília “de forma periódica e paulatina desde maio de 2014, devido ao atual período hidrológico, caracterizado por vazões abaixo da média histórica, considerando a série de registros desde 1930”. Em maio de 2014, a vazão mínima foi reduzida de 190 mil litros para 173 mil litros por segundo. A última redução foi autorizada em dezembro e valia até 31 de janeiro: de 160 mil litros para 140 mil litros por segundo. “O objetivo dessas reduções é preservar o estoque de água disponível nos reservatórios, devido à importância da bacia para o abastecimento de várias cidades. As reduções de vazão são acompanhadas de avaliações periódicas por parte da ANA, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e do Estado do Rio dos impactos que a medida poderá ocasionar sobre os diversos usos da água”, diz a ANA na nota.
Dos quatro reservatórios que abastecem o Rio, dois já atingiram o volume morto e dois apresentam níveis muito baixos, de 1,72% e 5,30%. Na semana passada, o coordenador do Instituto de Mudanças Globais da Coppe/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcos Freitas, afirmou que, se não chover o suficiente para encher parte dos reservatórios e for mantida a vazão de 140 mil litros por segundo, os 3 trilhões de litros acumulados nas reservas técnicas das quatro represas só duram até outubro. Pezão reuniu-se nesta terça-feira com o secretário do Ambiente e o presidente da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), Jorge Briard, para discutir alternativas como projetos de dessalinização da água do mar.