Depois de ver a crise hídrica tornar-se um tema cada vez mais frequente em suas passeatas contra a tarifa de R$ 3,50, o Movimento Passe Livre (MPL) evitou protestar no centro da cidade e organizou ontem três marchas simultâneas em pontos diferentes da periferia de São Paulo – que reuniram pouco mais de 200 manifestantes.
A ação serviu para o grupo afastar-se de pressões que vem sofrendo de outros movimentos, que querem a água em discussão e farão um ato independente na semana que vem na Avenida Paulista.
“Não que a questão da água não seja importante. Mas cada protesto tem de mostrar, logo na faixa de abertura, qual é o seu foco. Quando entram várias pautas em um mesmo movimento, o poder de reivindicar fica menor”, afirmou o militante do MPL Marcelo Hotiniski, que participou de uma caminhada do movimento em São Miguel Paulista, na zona leste.
O MPL já reuniu mais de 5 mil pessoas em manifestações neste ano, segundo números oficiais da Polícia Militar – e mais de 30 mil, conforme reivindica o grupo -, mas os cartazes de movimentos estudantis e anarquistas que os seguem têm trazido cada vez mais dizeres reclamando da crise hídrica. O movimento jamais fez críticas a esse posicionamento dos apoiadores, como também nunca condenou a ação de integrantes da tática Black Bloc. Mas não fez, até aqui, nenhuma menção à crise da água.
“Não somos donos da rua e não vamos mandar ninguém sair da rua”, diz o militante Mateus Preis, que nesta terça-feira esteve no ato da Estrada do Campo Limpo, no extremo sul da cidade.
Ele argumenta, ainda, que as ações nas periferias acontecem independentemente da “disputa de pautas” que a crise hídrica trouxe à redução das tarifas. “Sempre estivemos nas periferias”, disse. “Não saímos do centro. Tanto que haverá um ato na sexta-feira”, completou.
Já Francisco Fernando, de 22 anos, militante da organização Território Livre, avalia que a demanda pela água pode mobilizar mais pessoas nas ruas. Ele vai participar do ato independente da próxima semana, que tem concentração na frente do Masp. “A questão da água é mais urgente e pode mobilizar mais gente. As pessoas não estão mais vindo só pela tarifa”, afirmou.
Panfletagem
Na periferia paulistana, também sem os black blocs – que costumam aparecer só em manifestações centrais, com maior número de manifestantes -, o MPL costuma aproveitar para panfletar com mais calma seus ideais, buscando aumentar o número de críticos contra o aumento da passagem.