Ao apresentar nesse domingo, 2, os textos sínteses dos mais recentes relatórios do Painel Internacional de Mudança Climática (IPCC), o presidente do grupo científico, Rajendra Pachauri, afirmou não haver outra saída aos governos senão o corte das emissões de gases do efeito estufa para evitar o aumento de 2°C na temperatura da terra até o fim do século. “A comunidade científica falou. Agora passo o bastão aos governos.”
Pachauri mostrou-se otimista em relação a um acordo entre os 190 países em Paris, em 2015, durante a Conferência das Partes sobre Mudança Climática (COP21). As sínteses dos relatórios do IPCC servirão como base para as negociações. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, lembrou que a tentativa de um acordo em 2009, em Copenhague, falhou porque os líderes estavam concentrados na crise financeira mundial.
Mas há dois meses, em Nova York, os líderes reunidos na Cúpula da Mudança Climática se comprometeram a alcançar um acordo em 2015. “Mesmo que as emissões de gases do efeito estufa acabem agora, ainda vamos continuar a sentir os efeitos da mudança climática”, afirmou Ban.
As sínteses elaboradas ao longo da semana passada preservaram as principais constatações dos três últimos relatórios do IPCC sobre o aquecimento global e seus efeitos sobre as pessoas e os ecossistemas. Mas ambos os textos sofreram interferência de representantes de governos presentes aos debates em Copenhague. Entre os tópicos omitidos está uma coluna do quadro sobre os cenários de aumento da temperatura, que aponta a possibilidade de acréscimo de 7,8ºC, até 2100, se a concentração de dióxido de carbono (CO2) equivalente na atmosfera superar 1.000 partes por milhão (ppm).
Solução e futuro
Para a temperatura não subir mais do que 2ºC até 2100, alerta o IPCC, será necessário reduzir as emissões dos gases do efeito estufa para um nível perto de zero. O resumo para tomadores de decisão, com 40 páginas, diz ser “inequívoca” a influência humana no processo de aquecimento global. As emissões de gases do efeito estufa provocadas pelo homem são as maiores da história e vão causar ainda mais aquecimento global e mudança.
Aumenta, portanto, a “probabilidade de impactos graves, disseminados e irreversíveis” sobre as pessoas e os ecossistemas. Entre eles, os eventos extremos – chuvas mais intensas, tempestades, inundações, secas e ciclones – já percebidos. A temperatura e a salinização dos oceanos serão crescentes, assim como o aumento de seu nível, provocado pelo derretimento de geleiras do Ártico.
Nenhum lugar do mundo estará intocável à mudança do clima.
A atividade econômica vai cair, a redução da pobreza se tornará tarefa mais difícil e haverá riscos para a segurança alimentar e novos bolsões de miséria em áreas urbanas, aponta o resumo. A mudança climática deve empurrar pessoas para fora de suas regiões originais e há alto risco de conflitos violentos.
Confiança e custos
Segundo o secretário-geral da Organização Mundial de Meteorologia, Michel Jarraud, o nível de confiança nas projeções científicas é maior agora do que em 2009. O que antes estava apenas projetado pelo IPCC agora tem fundamentos em valores. “Ninguém mais pode alegar ignorância”, disse.
O IPCC preservou no resumo para tomadores de decisão a recomendação para que seadotem estratégias de adaptação e de mitigação de mudanças climáticas.
Pachauri alertou para o fato de a “janela” estar se fechando.
O custo da mitigação para a economia mundial, nos cálculos do IPCC, deve ser de 0,06% do Produto Interno Bruto de cada país. Quanto mais atrasar o início das medidas de mitigação, mais caras serão as medidas necessárias. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.