Preocupado com os desdobramentos da crise hídrica, o governo Dilma Rousseff planeja uma campanha institucional para estimular o uso racional da água. A decisão marca uma mudança de postura do Palácio do Planalto, que até o momento se concentrava na oferta de apoio financeiro aos principais Estados afetados pelos problemas de abastecimento.
Uma das apreensões do governo federal é evitar a mistura da crise energética com a hídrica – apesar de as duas questões estarem interligadas, a hídrica tem abalado mais a popularidade do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), conforme mostrou pesquisa do instituto Datafolha.
A estratégia de comunicação do governo federal também deve delimitar as responsabilidades de União e Estados na gestão da água. Pela legislação, os serviços de saneamento são geridos exclusivamente pelos Estados. À União cabe o apoio com recursos e medidas que cada ente da federação entenda como necessários.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a campanha sobre o uso racional da água ainda se encontra em estado embrionário, mas a ideia será discutida pela Secretaria de Comunicação Social e pelo Ministério do Meio Ambiente para a formatação final.
Internamente, o Planalto avalia que o racionamento de água em São Paulo já é praticamente inevitável, caso não aconteça uma inversão total do cenário de chuvas até o próximo mês. Integrantes do governo comemoraram o volume de chuvas já registrado neste mês, mas ressaltam que o cenário para março e abril ainda é incerto.
A situação é diferente no setor elétrico, no qual a gestão da energia é centralizada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que tem participação direta do Ministério de Minas e Energia. É o ONS que coordena e controla a operação das instalações de geração e transmissão de energia, sob a fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A Aneel também fará campanha pelo uso racional de energia.
Impactos
Os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Nelson Barbosa (Planejamento), Jaques Wagner (Defesa), Gilberto Kassab (Cidades), Gilberto Occhi (Integração Nacional), Kátia Abreu (Agricultura) e Eduardo Braga (Minas e Energia) se reuniram ontem no Planalto para discutir o impacto da crise hídrica na agropecuária.
A ministra da Agricultura reconheceu a gravidade da estiagem no País. “É claro que temos uma crise hídrica, mas temos a água como compromisso desde a posse no ministério. Ela será um produto a mais na nossa cesta”, afirmou Kátia Abreu, ao apresentar um hotsite (www.embrapa.br/agua-na-agricultura) que vai oferecer diagnósticos recorrentes sobre a situação hídrica no País e o impacto da falta de chuvas na produção de alimentos.
Kátia disse, porém, que o governo não vê “caos” na atual conjuntura e evitou comentar um eventual rodízio de água em São Paulo. “Isso é decisão do Estado de São Paulo, do governo de São Paulo. Tenho certeza de que o governo de São Paulo vai saber tomar a decisão adequada para atender a população.”
Alimentos
Segundo o governo, no caso da cana, 66,04% dos municípios produtores (que representam 80% da safra) tinham, em janeiro, umidade do solo abaixo da média histórica; no caso do café, essa taxa é de 90,98%; para o trigo, 39,25%; para soja, 52,47%; e para milho primeira safra, 53,78%. Os dados foram coletados nos primeiros 20 dias de janeiro.
Kátia Abreu minimizou, no entanto, um possível impacto das condições climáticas no preço dos produtos. “É coisa sazonal, já vimos no passado o caso do tomate, não é estrutural.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.