O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, teve um encontro com o advogado da UTC Engenharia, empresa investigada pela Operação Lava Jato e acusada de conseguir contratos com a Petrobras mediante pagamento de propina. A conversa dos dois ocorreu no gabinete do ministro, em Brasília. Segundo a assessoria de Cardozo, a única testemunha do diálogo é o advogado e ex-deputado federal Sigmaringa Seixas (PT-DF).
O Ministério da Justiça divulgou uma nota, nesta sexta-feira, 13, para dizer que Cardozo não conversou sobre a Operação Lava Jato com o advogado da UTC, Sérgio Renault, ou com Sigmaringa Seixas. A nota foi escrita pela pasta para negar informações veiculadas na edição desta semana da revista “Veja”.
De acordo com a revista, o encontro entre Cardozo e Renault foi uma reunião omitida da agenda oficial na qual o ministro disse ao advogado que a Lava Jato mudaria de rumo radicalmente, tornando o cenário mais favorável aos suspeitos de terem participado do esquema de corrupção.
Em entrevista publicada na mesma edição da revista, Cardozo disse que seu encontro com Renault foi casual. “Eu estava com o doutor Sigmaringa Seixas, que veio falar comigo sobre uma questão. Ele é meu amigo de anos. Ele, Sigmaringa, iria almoçar com o Sérgio. Aí eles se encontraram na minha antessala. Aí eu saí e cumprimentei o Sérgio. Mas não fiz reunião com ele”, declarou o ministro.
Na nota, a assessoria da pasta afirmou que a revista “Veja” divulga “mentiras” e faz “ilações” na reportagem. Mas confirmou todas as declarações dadas por Cardozo na entrevista que foi publicada sobre o assunto. “Advogados têm o direito de serem recebidos por autoridades públicas. O ministro da Justiça e os servidores do Ministério têm o dever legal de recebê-los”, diz a nota.
Lava Jato
Em 14 de novembro de 2014, foram apreendidos no apartamento de Ricardo Pessoa, presidente da UTC, papeis que mostram a articulação de uma defesa conjunta por parte das empresas envolvidas no escândalo. Os documentos fazem referência a uma estratégia ligada ao escritório Tojal Renault Advogados Associados, que envolveria três metas: tirar a investigação de Curitiba, onde é conduzida pelo juiz Sergio Moro, e levá-la para o Supremo Tribunal Federal (STF); fragilizar delações; e estudar um acordo.
O jornal O Estado de S. Paulo revelou, em janeiro deste ano, que investigadores da Lava Jato acreditam que Sigmaringa Seixas estava citado numa lista apreendida na casa do presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho. A lista apresenta nomes de advogados e autoridades com influência nos processos decorrentes da operação.
O manuscrito, de uma página, estava entre os objetos encontrados num apartamento de Pinheiro em 14 de novembro, em São Paulo – dia em que foi deflagrada a sétima fase da operação. O documento cita o nome do ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Cesar Asfor Rocha, a sigla “Sig” e os nomes “Vinícius” e “Aroldo”. Para os investigadores, a sigla é uma referência ao advogado e ao petista Sigmaringa Seixas, conhecido pelo apelido “Sig” e atuante, como advogado, no Supremo Tribunal Federal (STF). Vinícius seria o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Vinícius Carvalho. E Aroldo, o presidente do tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz.