A construção de um memorial com o nome do ex-presidente João Goulart (1919-1976) no centro de Brasília resgatou o embate que precedeu o golpe – que completa hoje 51 anos – entre admiradores de Jango, como era conhecido, e um grupo de militares, os chamados pracinhas, combatentes brasileiros da Segunda Guerra Mundial.
Para aumentar a polêmica, a recente instalação de tapumes no terreno que abrigará o espaço – ao lado do Setor Militar Urbano, no que é considerado uma provocação às Forças Armadas – se tornou um ingrediente a mais da manifestação anti-Dilma programada para 12 de abril na cidade. Militares veteranos também criticam a obra.
“Aquilo era um lugar para a construção do Memorial dos Pracinhas que morreram na Segunda Guerra Mundial. Estão jogando uma bomba em cima dos habitantes de Brasília”, critica o arquiteto Carlos Magalhães, amigo de Oscar Niemeyer. “O Oscar, onde estiver, deve estar p… da vida. Ele fez esse projeto para São Borja (terra natal de Jango), isso é um atentado.”
A área do terreno de 10,8 mil metros quadrados foi destinada ao Instituto Presidente João Goulart (IPG) em abril de 2013, na gestão Agnelo Queiroz (PT), informou a Secretaria de Cultura do Distrito Federal. O convênio não prevê repasse financeiro do governo local ao IPG – fica a cargo do instituto captar recursos para a execução da obra.
“O memorial não é um tributo ao João Goulart, é um tributo à liberdade e à democracia”, diz o empresário João Vicente Goulart, filho de Jango e diretor do IPG. “Pretendemos que o espaço seja uma usina de ideias, dos novos movimentos, do hip hop, grafiteiros, do rolezinho, e promova uma reflexão sobre a ruptura institucional de 1964.” Segundo ele, a ideia é fazer do memorial um ambiente de atividades culturais gratuitas à população. “Não vai ter nenhuma exaltação (a Jango), apenas o nome.”
Campanha nas redes sociais já arrecadou R$ 48 mil para a construção do memorial, orçada em R$ 17 milhões. O IPG conseguiu autorização para captar R$ 15,8 milhões via Lei Rouanet. “Assim como o Lula convocou o exército vermelho do Stédile (João Pedro Stédile, líder do MST), eu convocaria o exército glorioso brasileiro para entrar conosco nessa campanha contra o memorial”, diz o presidente do Clube dos Pioneiros, Roosevelt Dias Beltrão.
Críticos do projeto já se mobilizam para iniciar o ato anti-Dilma, no dia 12, na área do memorial, com ameaça de derrubada dos tapumes. “O pessoal quer derrubar tudo”, diz o ex-secretário de Cultura Silvestre Gorgulho. A Secretaria de Comunicação da Presidência, a Administração de Brasília e Ana Lúcia Niemeyer, neta de Oscar Niemeyer, não se manifestaram. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.