Acusado de assédio sexual, o indiano Rajendra Pachauri abandonou a presidência do Painel Intergovernamental da ONU para Mudanças Climáticas (IPCC) em um momento crítico nas negociações para um acordo sobre emissões de CO2. Em comunicado emitido na terça-feira, 24, a ONU aceitou sua renúncia.
Pachauri, que ocupava o cargo desde 2002 e foi o vencedor em nome do IPCC do Prêmio Nobel da Paz de 2007, rejeita as acusações de assédio feitas contra ele por uma funcionária de seu escritório de 29 anos.
Mas a polícia de Nova Délhi iniciou uma investigação formal contra o cientista de 74 anos. Como indícios estão e-mails, SMS e mensagens de WhatsApp endereçados à suposta vítima.
Seu mandato iria terminar em outubro deste ano. Mas em uma carta ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, Pachauri alegou que não teria como realizar as frequentes viagens que o cargo exige nem ir ao Quênia e a Genebra, onde o IPCC tem suas principais sedes. Na carta, Pachauri indica que não poderia garantir “forte liderança e dedicação de seu tempo”.
Nesta semana, por exemplo, o IPCC se reúne em Nairobi, e Pachauri não poderia deixar a Índia. Em nenhum momento da carta, porém, ele cita o caso nos tribunais que existe contra ele. “Para mim, a proteção do planeta Terra, a sobrevivência de todas as espécies e o caráter durável dos ecossistemas são mais que uma missão”, afirmou. “Essa é minha religião.” Há poucas semanas, ele já havia abandonado a direção do Instituto de Energia e Recursos.
No início da semana, uma corte indiana garantiu proteção a Pachauri contra eventual prisão preventiva até que o caso seja analisado pelo tribunal, amanhã. Seus advogados alegaram que o cientista sofre de problemas cardíacos. Sua defesa ainda insiste que os e-mails e mensagens enviados à funcionária não são de Pachauri e que um hacker invadiu seus computadores e passou a agir. “Sr. Pachauri está prestando toda assistência à Justiça”, declarou sua defesa.
Mas o caso abre uma crise a mais dentro do mundo científico. Em seu lugar no IPCC assume Ismail El Gizouli, de forma interina. A entidade foi quem liderou as pesquisas nos últimos anos, mostrando como a ação humana está promovendo o aquecimento do planeta.
Diplomatas consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo temem que a falta de uma liderança forte nesse momento signifique um problema extra para as negociações do clima, que precisam estar concluídas até o final do ano.
Repercussão
Para alguns cientistas, os ataques contra Pachauri poderão ser usados como pretexto por aqueles que querem minar o acordo. “Céticos das mudanças climáticas vão tentar usar o fato como uma oportunidade para atacar a avaliação do IPCC sobre as consequências das mudanças climáticas”, alertou Bob Ward, diretor do Instituto de Pesquisas Grantham, da London School of Economics. “Essas conclusões do IPCC continuam a ser verdade, com ou sem Pachauri.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.