O terreno de 23,7 mil metros quadrados do Parque Augusta, onde ativistas estão acampados desde o dia 17 de janeiro, está com reintegração de posse prevista para acontecer nesta quarta-feira, 4.
Ainda assim, há a possibilidade de o grupo não precisar deixar o espaço na Rua Augusta, entre a Caio Prado e a Marquês de Paranaguá. Um pedido de suspensão do processo por prazo de 90 dias, tempo para que a aquisição do terreno seja negociada, deve ser julgado ainda nesta terça-feira, 3.
“Todas as pessoas estão sentadas na mesa, negociando: o Ministério Público, o prefeito e as próprias construtoras. No nosso ver, não se justifica a reintegração de posse com uso de força policial. A gente vai passar por um trauma desses e, na semana seguinte, comemorar a existência do Parque Augusta?”, questiona a advogada Célia Marcondes, fundadora da Associação dos Moradores de Cerqueira César.
Mesmo com a possibilidade de a ação ser suspensa, os ativistas estão preparados para uma “resistência pacífica” contra a reintegração de posse. Uma série de eventos, de mutirão de grafite à meditação kundalini, vai acontecer no Parque Augusta até a provável chegada da Polícia Militar.
“Todas as nossas decisões são horizontais e tomadas em assembleia”, diz uma das participantes do movimento, a jornalista Henny Freitas, de 33 anos. “O que posso dizer é que teremos o apoio, na madrugada de quarta, de vários outros grupos que atuam na cidade e estão solidários à causa.”
Ela destaca que neste pouco mais de um mês de ocupação – ou “vigília criativa”, como eles preferem chamar – do terreno, os ativistas desenvolveram uma série de atividades e melhorias.
“O Parque Augusta começou a acontecer, pois já é frequentado pela vizinhança”, afirma ela. De acordo com os ativistas, a área recebeu a visita de 10 grupos de crianças, de colégios diferentes, para oficinas ambientais. Mais de 200 mudas de árvores foram plantadas – entre as quais, pau-brasil, embaúba, mogno, louro-pardo, açoita-cavalo – e o grupo construiu dois domos geodésicos que funcionam como espaços de convivência.
O terreno também ganhou internet wi-fi, com rede aberta a todos os frequentadores, uma pequena biblioteca comunitária e locais para destinação de lixo reciclável – catadores e uma cooperativa retiram o material. Também instalar duas cisternas para coleta da água da chuva e duas composteiras.
Por meio de nota, as construtoras Cyrela e Setin, proprietárias do terreno, informaram que a decisão – da reintegração de posse – é do Poder Judiciário. A liminar foi concedida em favor das construtoras no dia 21 de janeiro. A Polícia Militar e os ativistas chegaram ao acordo de que o processo acontecesse apenas nesta quarta.