O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta sexta-feira, 6, que os deputados do PSOL Ivan Valente (SP) e Edmilson Rodrigues (PA) deverão responder a processo de quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética, por terem entrado em confronto com o presidente da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB). “Houve uma representação contra os dois deputados, já despachei para a Corregedoria e provavelmente o caso vai para o Conselho de Ética. A Corregedoria decidirá se houve quebra de decoro. Na minha opinião, houve. Ninguém pode chegar na frente do cara, chamar de moleque com o dedo em riste. Isso é quebra de decoro”, disse Cunha.
Segundo o presidente da Câmara, a representação foi feita por deputados do PMDB. “Achei até muito boa essa representação porque tem que colocar as coisas no seu devido lugar. Tem que ter respeito à liturgia do parlamento. Todo mundo pode exercer contestação, há mecanismos para contestar, mas não pode achar que uns são detentores de autoridade moral maior que outros. Não são”, afirmou Cunha.
Durante sessão da CPI, nessa quinta, 5, Edmilson e Ivan reagiram quando Motta anunciou os nomes dos sub-relatores que investigarão o esquema de corrupção na Petrobrás. Ao lado de Ivan, Edmilson chamou Motta de “coronel” e “moleque”. Os dois deputados se exaltaram e foram contidos por colegas. Depois do tumulto, Edmilson pediu desculpas a Motta e negou ter chamado o deputado de moleque. O parlamentar do PSOL disse que suas palavra foram “não amoleque esta CPI”.
Eduardo Cunha afirmou estar certo de que Hugo Motta, de 25 anos, “vai se sair bem” na presidência da comissão de investigação. O presidente lembrou que, como líder do PMDB, indicou Motta para a Comissão de Fiscalização, na legislatura passada. “Como presidente da Comissão de Fiscalização, ele enfrentou paus iguais a esse. É jovem, mas é muito firme. Ele vai se sair bem, tenho certeza disso. Já está no segundo mandato”, afirmou Cunha. “Sou um bom descobridor de valores”, brincou o deputado.
Lava Jato
Questionado sobre a inclusão de seu nome da lista que o procurador geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido de abertura de investigação sobre envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras, Cunha disse que não falaria “sobre especulação”. O deputado foi citado pelo policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, ligado ao doleiro Alberto Yussef, durante investigação da Operação Lava Jato. Jayme disse ter ouvido que dinheiro de propina do esquema deveria ser entregue em uma casa que pertencia a Cunha. Depois, a defesa do policial enviou esclarecimento à Justiça e disse que não tinha informação sobre Cunha. O endereço citado pelo policial não coincide com o local onde Cunha mora, na Barra da Tijuca (zona oeste).
O deputado disse não ter sido comunicado de qualquer pedido de investigação por parte de Janot. “Vou me defender do quê? Não posso comentar especulação”, respondeu. “Se (a denúncia) foi aquilo (depoimento de Jayme), eu não preciso me preocupar, não preciso fazer nada, já está defendido. É só eles lerem o que foi escrito e acabou. Podem chamar o cara (Jayme), ir na casa, chamar o proprietário, tirar documento em cartório. Não tem que fazer”, declarou. Sobre possível interferência do governo na elaboração da lista de Janot, o presidente da Câmara respondeu. “Há boatos, eu gostaria que não fossem verdadeiros. Se forem verdadeiros, eu não diria que a intenção é enfraquecer o PMDB, mas o Poder Legislativo”.