O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que a presidente Dilma Rousseff (PT) deveria colocar uma agenda ao País para sair da crise atual. “Ela deveria mostrar o que vem depois do ajuste fiscal”, declarou, em entrevista ao programa Diálogos com Mário Sérgio Conti, da Globo News, veiculado na noite desta segunda-feira.
Cunha defendeu as medidas fiscais propostas pelo governo e afirmou que nenhuma medida provisória do ajuste chegou à Câmara até o momento, mas não há “nenhum gesto oposicionista” da Casa. Tido como oposicionista pelas derrotas que já impôs ao governo federal, o deputado disse que se coloca como “independente, mas harmônico” em relação ao Executivo.
Questionado sobre a possível taxação dos mais ricos, Cunha afirmou não ter recebido nenhuma proposta nesse sentido. Ele se disse contra aumentar impostos, mas ponderou que é preciso ver como o governo fará o ajuste fiscal.
Cunha defendeu a horizontalidade da desoneração da folha de pagamento, igualando a alíquota para todos os setores, mas ponderou novamente a importância da neutralidade da medida para a arrecadação.
Além da questão econômica, Cunha comentou a crise política por que passa o governo. “A hegemonia eleitoral geralmente leva a uma hegemonia política. Isso não aconteceu”, disse, lembrando que algo semelhante ocorreu na reeleição do tucano Fernando Henrique Cardoso.
O deputado citou a necessidade de um empréstimo ao Fundo Monetário Internacional, a correção cambial e a prisão do presidente do Banco Central para exemplificar a crise enfrentada pelo tucano na ocasião, mas ponderou que FHC teve mais habilidade política e uma base mais sólida do que Dilma para sair da crise.
Apesar de reconhecer crises na política e na economia, Eduardo Cunha esquivou-se de dar uma nota à gestão Dilma Rousseff. “Governo começou há dois meses, não dá para dar nota”, afirmou. “Mas o primeiro governo Dilma foi bem avaliado o suficiente e por isso ela venceu a eleição”.
Questionado sobre a condição de investigado da Lava Jato, Cunha voltou a criticar o trabalho do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, dizendo que a decisão de incluí-lo na lista foi política. Ele repetiu a defesa que apresentou na semana passada, à CPI da Petrobras, e disse que não abriu seu sigilo bancário por não querer “constranger todos a fazer o mesmo”.
O deputado atribuiu a corrupção na Petrobras a uma falta de governança do Executivo, e citou o processo de licitação por carta-convite e a compra de refinarias por preço acima do mercado como causas para o problema. Em 2006, quando da aprovação da compra da refinaria de Pasadena, que gerou prejuízos à Petrobras, a então ministra Dilma Rousseff era presidente do Conselho de Administração da estatal.
“Não é o Poder Legislativo que fez licitação, que assinou contratos”, disse, argumentando que a corrupção está no Executivo. Ele defendeu que as empreiteiras envolvidas no esquema não sejam declaradas inidôneas a fim de proteger o emprego e a economia do País.
Para evitar que novos desvios ocorram, Cunha defende a contratação de empresas apenas quando há projeto executivo para a obra. “Projetos básicos gera aditivos e dão margem para a corrupção”, afirmou.