Um terço das 645 cidades paulistas registrou em apenas dois meses de 2015 mais casos de dengue do que em todo o ano passado, revela levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo com base em dados da Secretaria Estadual da Saúde. A lista dos 218 municípios nessa condição é composta principalmente por cidades do noroeste do Estado e do entorno de Campinas e de Sorocaba, áreas mais afetadas pela doença.
As estatísticas mostram ainda que 118 cidades paulistas já vivem uma epidemia, com taxa de incidência superior a 300 casos por 100 mil habitantes. E em dezenas desses municípios o índice de crescimento do número de casos e da taxa de incidência entre o ano passado e o primeiro bimestre deste ano é maior que 1.000%.
Desde janeiro, o Estado de São Paulo confirmou a contaminação de 56.959 pessoas. Contando os casos que ainda estão em investigação, o número chega a 123.738 registros, 692% a mais do que o número notificado no mesmo período de 2014. Com a alta, São Paulo já responde por 55% dos casos suspeitos de dengue registrados no País.
O maior aumento porcentual tanto no número de casos quanto na taxa de incidência é observado no município de Salto de Pirapora, na região de Sorocaba. Em todo o ano passado, a cidade teve apenas dois casos de dengue. Entre janeiro e fevereiro deste ano, os registros já chegam a 559. A taxa de incidência passou de 4,8 para 1.322 casos por 100 mil habitantes, alta equivalente a 27.555%.
Morador da cidade, o empresário Romeu Cardoso Resende, de 55 anos, contou que a dengue o derrubou. “Já faz duas semanas que estou com essa praga e não consigo me aprumar. Perdi peso, estou fraco, sem ânimo.”
O publicitário Hélio Ortega Júnior, que trabalha na prefeitura, relatou que servidores tiveram de se afastar depois de contrair dengue. A administração municipal ampliou o horário de atendimento dos postos de saúde para dar conta da demanda.
Caos
Considerando as cidades mais populosas, a pior situação é a de Sorocaba, onde a taxa de incidência cresceu 1.703%. Em unidades de saúde públicas do município, a demanda é tanta que pacientes estão esperando atendimento deitados no chão. “Estou com fraqueza, tenho vontade de ficar só deitado, mas não tem lugar nem para sentar”, disse o auxiliar administrativo Marcelo Borges, que procurou ontem a Unidade Pré-Hospitalar (UPH) da zona leste.
O ajudante Getúlio Gabriel da Silva também resolveu esperar deitado. “Estou na fila há quatro horas e só consegui passar pela triagem.” Em sua casa, na Vila Hortência, a dengue pegou a mulher e os dois filhos.
Entre as mais de 200 pessoas que esperavam pela triagem na unidade, na tarde de terça-feira, 17, muitas passavam mal. A fila avançava para o lado de fora da unidade. O pedreiro Sandro Lopes, com a mulher Edna chorando de dor, desistiu de esperar. “Tem gente esperando há cinco horas. Nessa situação, melhor ficar em casa.” Morador da Vila Nova Esperança, ele ainda teria de passar em outra unidade para buscar a filha, também com dengue. “O bairro todo está infestado”, disse.
Em todo o Estado, já são pelo menos 35 mortes por dengue confirmadas. Anteontem, a Secretaria da Saúde de Campinas confirmou o primeiro óbito pela doença no ano.
Para o infectologista Jean Gorinchtey, do Instituto Emílio Ribas, o longo período de estiagem vivido pelo Estado desde o ano passado colabora para o quadro epidêmico. “Os ovos do mosquito Aedes aegypti sobrevivem em ambiente seco por mais de um ano. Eles foram sendo colocados pela fêmea durante o ano passado e, quando a chuva finalmente chegou, começou a aparecer uma quantidade enorme de mosquitos.”
A Secretaria Estadual da Saúde disse que tem 500 técnicos atuando em parceria com os municípios no combate ao Aedes. A pasta afirma estar dando prioridade a cidades com alta incidência de casos com o envio de equipes e máquinas para combater o vetor da dengue.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.