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Cientistas só agora descobrem como repelente funciona

Um estudo liderado por um cientista brasileiro na Universidade da Califórnia, em Davis (Estados Unidos), poderá abrir caminho para a descoberta de novos repelentes de insetos, mais eficientes e baratos, para substituir o principal composto que tem sido utilizado para esse fim nas últimas seis décadas.

Hoje, a maior parte dos inseticidas comerciais utilizados no mundo tem como base o composto DEET, desenvolvido em 1946 pelo exército americano e registrado para uso em 1957. Embora os efeitos do composto sejam bem conhecidos desde então, até agora a ciência não sabia sobre seu mecanismo de ação nos mosquitos.

No novo estudo, publicado na revista PNAS, os pesquisadores do laboratório dirigido pelo cientista Walter Leal localizaram pela primeira vez o exato receptor olfativo dos mosquitos que os repele na presença do DEET.

Segundo Leal, radicado há 14 anos nos EUA, isso deverá acelerar a descoberta de novos repelentes. “Para buscar novos compostos repelentes é preciso desenhar uma molécula e depois fazer uma longa série de testes demorados e caros. Agora que descobrimos onde o DEET age, basta desenhar a molécula e testá-la nesse receptor específico. Se não funcionar, não se perde mais tempo nem dinheiro. Isso deverá acelerar muito o processo”, afirmou.

Em 2008, segundo Leal, o grupo de pesquisadores deu o primeiro passo para a descoberta, ao encontrar a célula nervosa que responde ao DEET. “Antes havia hipóteses de que o repelente funcionava ao interagir com outras moléculas, ou bloqueando o olfato do inseto. Mas nada era fundamentado. Ao descobrir o nervo, a questão passou a ser qual é o receptor.”

O estudo avançou quando os cientistas desistiram de clonar uma a uma as proteínas do nervo e fizeram o transcriptoma do animal – uma análise geral de todos os genes e processos que atuam em um organismo ou tecido em particular.

“Comparamos a antena olfativa do inseto à sua pata. Com esse termo de comparação, encontramos na antena mais de 100 receptores específicos do olfato. Analisamos cada um deles e descobrimos um que funciona para o DEET e todos os outros repelentes comercializados.”

Base natural

O DEET, segundo Leal, é um composto artificial cuja eficiência como repelente foi encontrada pelo método de tentativa e erro. Mas os pesquisadores suspeitavam que ele é eficaz porque imita algum produto natural. “Fomos procurar na natureza as moléculas que são atendidas pelo receptor do DEET. Descobrimos que o metil-jasmonato – composto que certas plantas produzem quando estão em situação de estresse – encaixa perfeitamente no receptor”, disse.

Os cientistas testaram o metil-jasmonato como repelente e comprovaram seu funcionamento. “Isso significa que há uma possibilidade muito grande de que o DEET, embora identificado ao acaso, imite um produto natural”, afirmou. Essa descoberta, segundo Leal, facilitará a produção de repelentes mais eficazes com base em moléculas naturais.

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