Pressionada por partidos da base aliada e com a nova queda de popularidade detectada em pesquisas de opinião, a presidente Dilma Rousseff começou nesta quinta-feira, 6, negociações para uma reforma ministerial. Depois da derrota sofrida na madrugada, quando a Câmara desafiou novamente o Palácio do Planalto e aprovou a proposta de reajuste nos salários de advogados públicos e de outras carreiras, Dilma decidiu reforçar a articulação política do governo.
O formato da reforma ainda não havia sido definido até quinta-feira à noite, mas ministros dão como certo que haverá rearranjos no PMDB do vice-presidente Michel Temer, hoje o articulador do Planalto com o Congresso. Além disso, PDT e PTB, que anunciaram independência em relação ao governo, devem entrar na dança das cadeiras da Esplanada.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se reuniu com Dilma na noite de quinta-feira, no Planalto. Com as ameaças de impeachment no cenário político, Dilma ficou apreensiva ao saber que Renan participou de jantar com políticos do PMDB e do PSDB na casa do senador tucano Tasso Jereissati (CE), na terça-feira.
Desde que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompeu com o governo, a vida da presidente virou um inferno. Agora, ela depende de Renan para barrar, no Senado, um possível processo pedindo o seu afastamento do cargo.
A expectativa de ministros é de que a ala do PMDB no Senado ganhe mais peso na equipe. A aliados, Renan diz que não basta uma reforma ministerial e prega uma “refundação” do governo para zerar o jogo. O discurso do presidente do Senado – que, a exemplo de Cunha, está sendo investigado na Operação Lava Jato – vai na linha de que Dilma precisa fazer um mea-culpa, cortar cargos, revisar contratos, anunciar medidas para aquecer economia e mudar o relacionamento com a base, se quiser se salvar.
Cargos
O PMDB tem hoje sete ministérios, mas uma fatia do partido diz que aceita abrir mão de cargos na reforma desde que o PT faça o mesmo. A Casa Civil está produzindo um estudo de reforma administrativa, para reduzir o número de ministérios – hoje são 39. Mas uma ala do governo acha difícil enxugar a máquina no turbilhão da crise, quando Dilma precisa agradar à base aliada, numa reedição do tradicional toma lá dá cá.
Dilma passou o dia em reuniões com ministros. Distribuiu broncas e mostrou preocupação com o agravamento da crise, vocalizada de forma contundente, na véspera, por Temer. Aos ministros mais próximos do PT, ela pediu ajuda e afirmou que todos “lavaram as mãos” depois que o vice assumiu a articulação política.
Mais cedo, Dilma conversou com Temer. Ela não gostou da entrevista do vice no dia anterior – ele afirmou que o Brasil precisa que alguém “tenha a capacidade de reunificar a todos”. Na manhã de quinta-feira, o vice fez questão de destacar que Dilma promoveu “um trabalho excepcional”. Apesar do discurso otimista ao público externo, o governo avalia que a crise vai piorar, pois está convencido de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, oferecerá denúncia contra Cunha no Supremo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.